Diferentemente
do Evangelho de Marcos, que põe o pedido de honrarias diretamente na boca de
Tiago e João, São Mateus nos apresenta a requisição de lugares de honra através
da mãe dos dois apóstolos. Mas ninguém engana o Mestre! Jesus logo percebe que
por trás da solicitação da mãe está, na verdade, a ambição dos dois filhos. E a
reserva e a timidez do comportamento da mãe e dos filhos traem a consciência
torta de todos eles.
Nem tudo, porém, é sombra neste episódio. O fato de terem
feito esse pedido a Jesus, no fundo, constitui um ato de fé. Eles realmente
criam que Jesus iria instaurar o seu Reino, onde, com certeza, teríamos trono,
cetro e poder. E, claro, um primeiro-ministro e um vice-primeiro-ministro. Daí
a solicitação que fizeram. Afinal de contas, não parece haver nada de errado em
pegar uns respingos da dignidade real do Senhor Jesus...
Ah! Vencer com Cristo! Reinar com Cristo! Dominar com Cristo!
Com Jesus, somos mais que vencedores!!! Esta religião é seguida por muitos...
Por outro lado, se elevamos em conta as palavras de Jesus que
antecedem o pedido de honrarias, é hora de ficarmos perplexos. Afinal, Jesus
acabara de anunciar profeticamente a sua própria morte, acompanhada de prisão,
zombaria e tortura! Jesus fala de cruz e os apóstolos estão de olho na glória!?
Daí o comentário de Jesus, certamente acompanhada de um
balançar da cabeça... “Vocês não sabem o que estão pedindo! Será que vocês
podem beber o cálice – isto é, a Paixão, o sofrimento... – que eu vou beber?”
Jean Valette sugere que nossas
orações deviam começar pela meditação da frase: “Não sabemos o que pedimos...” O próprio apóstolo Paulo diria: “Não
sabemos rezar como é preciso!” (Rm 8,26) Só com o Espírito Santo chegaremos a purificar
nossas orações do fundo distorcido que jaz em nosso interior: egoísmo, busca de
facilidades, fuga do sofrimento, expectativa de segurança e tranquilidade...
E a resposta de Jesus aos dois
apóstolos, e não à mãe deles, pois o Mestre logo percebeu a fonte da bobagem! –
já deixava claro que é uma ilusão querer participar da glória do Rei sem,
antes, participar de sua humilhação. E mais: a glória de Jesus não iria se
manifestar no trono, mas na Cruz. O verdadeiro trono de Jesus seria o Calvário!
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