Pretendes ser Deus? (Jo 10,31-42)
De
fato, esta é a suprema pretensão: ser Deus. E foi exatamente esta a raiz do
pecado original, quando a serpente tentadora se aproxima de Eva e sugere um
motivo torpe para a única proibição que o Criador apresentara ao primeiro
casal: “Ele bem sabe que, no dia em que comerdes da árvore, vossos olhos se
abrirão, e sereis como deuses”. (Gn 3,5)
No
caso de Adão e Eva, modelados a partir do “húmus” do Éden, bastava um pouco de
bom senso para não sonhar tão alto e reconhecer seu lado “humano”. Não é o caso
de Jesus Cristo, contestado neste Evangelho pelos judeus que o acusavam de
blasfêmia, logo após ter afirmado: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10,30) – um dos
versículos mais curtos de toda a Escritura sagrada.
Ao
longo de sua vida pública, Jesus de Nazaré vinha demonstrando os mais variados
sinais de que sua pessoa não se reduzia a uma natureza humana, mas incluía
traços evidentes de uma segunda natureza: a divina. Entre outros “sinais”
registrados nos Evangelhos, podemos citar:
-
a transformação de centenas de litros de água em vinho (cf. Jo 2);
-
a multiplicação de cinco pães e dois peixes em comida para 5.000 homens (cf. Jo
6,5ss);
-
a cura instantânea de doenças crônicas, como o cego de nascença (cf. Jo 9);
-
o poder de interromper num instante a fúria da tempestade (cf. Mt 8,26);
-
a capacidade de caminhar sobre as águas (cf. Mc 6,48-49);
-
a reanimação de pessoas mortas, como o filho da viúva de Naim (cf. Lc 7,11ss),
a filha de Jairo (cf. Lc 8,49ss) e o amigo Lázaro, sepultado há quatro dias
(cf. Jo 11,43-44).
Estes
fatos de caráter sobre-humano eram bem conhecidos dos contemporâneos de Jesus.
Seus discípulos deixaram para a posteridade o registro dos acontecimentos em
sua pregação e no texto dos Evangelhos. No entanto, uma espécie de “cegueira”
espiritual – obviamente alicerçada em interesses e preconceitos humanos –
impediu que esses sinais fossem acolhidos pelos poderosos de seu tempo, em
especial as autoridades religiosas do judaísmo.
Só
um grupo fiel soube abrir os olhos da alma e fazer o ato de fé: “Agora vemos
que conheces tudo e não precisas que ninguém te faça perguntas. Por isso
acreditamos que saíste de junto de Deus!” (Jo 16,30) Até o centurião romano foi
capaz de reconhecer: “Na verdade, este homem era filho de Deus!” (Mc 15,39) E
Tomé, o racionalista, diante das chagas no corpo do Ressuscitado: “Meu Senhor e
meu Deus!” (Jo 20,28)
Orai sem cessar:
“Eu creio, Senhor!” (Jo 9,38)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade
Católica Nova Aliança.
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