Quando chegou a hora...
(Lc 22,14 – 23,56)
Tudo tem o seu tempo. Tudo tem sua
hora. O povo fala em “Hora H”: isto é, nem antes, nem depois. Um tempo exato,
certo, determinado. A intuição acerca dessa “hora” é determinante para o
resultado de nossas ações. Uma coisa certa na hora errada acaba por se tornar
em coisa errada. Daí a importância de discernir a nossa “hora”, saber esperar
por ela sem antecipá-la e frustrar seus efeitos.
Foi assim com Jesus de Nazaré. Ele
tinha noção de que viria uma “hora” quando seria possível cumprir sua missão.
Nas bodas de Caná, ele hesita em atender ao pedido de sua Mãe, alegando que sua
hora ainda não havia chegado (cf. Jo 2,4). Foi preciso um empurrãozinho materno
para que ele realizasse o milagre “original”, transformando a água em vinho.
Durante sua vida pública, vários
episódios deixam antever que viria uma “hora” especial, única, definitiva, em
que os desígnios do Pai se abririam aos pés do Filho e, só então, ele
mergulharia no vórtice da Paixão que iria alterar para sempre todo o futuro da
humanidade. Tal como em João 7,30: “Procuravam prendê-lo, mas ninguém lhe pôs
as mãos, porque não tinha chegado a sua hora”. Não se trata de uma visão
determinista dos acontecimentos, como na fala do povo: “Tinha mesmo que
acontecer!” Ou: “O que é do homem, o lobo não come...”
De modo algum! Trata-se, antes, de uma
vida a tal ponto abandonada nas mãos de Deus, que ameaças e imprevistos de cada
dia não atingiam a Jesus em seu íntimo, conforme ele ensinou sobre a confiança
em Deus (cf. Mt 6,25-34). Lírios do campo e aves do céu são referências nesse
tipo de abandono, exemplos de pequeninos jamais esquecidos pelo Criador.
Agora, porém, na véspera de sua Paixão,
chega a “hora” de Jesus. E ele o declara expressamente: “Eis que vem a hora, e
já chegou, em que vos dispersareis, cada um para seu lado, e me deixareis
sozinho. Mas eu não estou só. O Pai sempre está comigo”. (Jo 16,32) Esta
afirmação de Jesus desmente aqueles teólogos que viram no Calvário o Filho
abandonado pelo Pai, como se este não tivesse participado, a seu modo, da
Paixão do Filho.
Na entrada triunfal em Jerusalém, entre
hosanas e palmas agitadas no ar, Jesus não se deixa distrair de seu caminho;
ele sabe que a mesma multidão, que ora grita hosanas, há de urrar o terrível:
“Crucifica-o!” E Jesus ficará firme: “Minha alma está perturbada. E que direi?
‘Pai, livra-me desta hora?’ Mas foi precisamente para esta hora que eu vim.
Pai, glorifica o teu nome!’” (Jo 12,27-28) Para Jesus não é a hora da dor, da
traição, do abandono, mas sobretudo a hora de ser glorificado o Pai na Paixão
amorosa do Filho, que dá sua vida por amor. Uma hora que o mundo jamais
esquecerá...
Orai sem cessar: “Senhor, os
meus tempos estão em tuas mãos!” (Sl 31,16)
Texto de Antônio Carlos Santini,
da Comunidade Católica Nova Aliança.
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