Ainda
estava longe... (Lc 15,1-3.11-32)
À primeira
vista, parece apenas um detalhe, mas é rico de ensinamentos... O filho pródigo
ainda estava longe quando o pai o “avistou”. Este olhar de longo alcance nos
fala muito de nosso Deus.
Acompanhemos
a bela meditação de François Haab:
“Ausente,
silencioso, o Pai não estava menos presente. Todos os dias, ele esperava, vigiava
a volta de seu filho. O Pai o vê de longe e logo o reconhece. Para Deus, mesmo
longe já é bastante perto. Isto basta para que ele se aproxime. No entanto, o
filho não se parece mais com o que ele era. Está irreconhecível. Em termos
teológicos, o filho não é mais a semelhança do Pai.
Tomado
de piedade à vista do filho, o Pai tem as ‘entranhas revolvidas’. A palavra
‘misericordioso’ significa ‘quem tem entranhas de mãe’. É o que Rembrandt quis
expressar em seu quadro, ao pintar diferentemente as duas mãos do Pai que
abençoava: uma de homem e uma de mulher, a mão que sustenta e a mão que
acaricia.
O
Pai se lança a seu pescoço. Não o deixa enfrentar sozinho o regresso à aldeia,
onde deveria suportar zombarias, injúrias e, talvez, pancadas. É o Pai que toma
sobre si a humilhação desse trajeto, como Jesus o fará por nós durante sua
Paixão. E o cobre de beijos, enlaça-o com os dois braços. O verbo empregado por
Lucas significa ‘abraçar muitas vezes’. E um longo beijo é o sinal de
reconciliação. Assim, após uma disputa, a reconciliação era marcada por uma
cerimônia onde os protagonistas se abraçavam publicamente.
O
Pai não expõe o pecado de seu filho, mas cuida das de suas feridas, de modo que
elas não deixem nenhuma cicatriz, nenhuma desonra. Lemos no Salmo 32,1:
‘Felizes aqueles cuja falta foi cancelada e o pecado perdoado’. É nesse momento
preciso, sob os beijos paternos, que o coração do filho reconhece simultaneamente
a enormidade de seu pecado e o imenso amor de seu Pai.”
Quase
sempre, esta parábola é intitulada “do filho pródigo”. Alguns autores, como
Joachim Jeremias, corrigem para parábola “do amor do Pai”, recolocando no foco
o verdadeiro protagonista. De fato, muito mais que uma história de conversão,
Jesus nos apresenta em detalhes humanos (como no pastor que recupera a ovelha,
ou a mulher que busca pela moedinha) uma imagem de Deus Pai, cujo amor por nós
supera infinitamente os estragos de nossos pecados.
Já
conhecemos bem a treva de nosso pecado. Falta conhecer a ternura de Deus...
Orai sem cessar: “Senhor,
gosto da casa onde moras!” (Sl
26,8)
Texto de Antônio Carlos Santini,
da Comunidade Católica Nova Aliança.
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