Minhas ovelhas
me seguem... (Jo
10,22-30)
Desde o início da
Igreja, logo após a vinda do Espírito Santo, em Pentecostes, a religião dos
cristãos foi um “seguimento” de Jesus. Ser cristão era estar “no Caminho”,
“caminhar” com o Ressuscitado.
Jesus manifesta
neste Evangelho o divisor de águas entre seus discípulos e os adversários que o
interpelam: “Vós não acreditais... Minhas ovelhas ouvem a minha voz...”
Naturalmente, “ouvir” é bem mais que escutar: inclui “obedecer”.
A sabedoria espiritual se resume em obedecer estritamente à vontade do Pai que
o Filho nos revela. Ter um “coração ouvinte”, como o jovem Salomão pediu a Deus
(cf. 1Rs 3,9), é a prova da fidelidade, a marca do fiel.
Não é por acaso
que São Paulo apóstolo se refere mais de uma vez à “obediência da fé” (Rm 1,5;
16,26): quem crê, obedece. Isto é, a fé em Jesus Cristo é exteriorizada
concretamente em atos de obediência. Uma espécie de fé algo abstrata, que se
confunda com sentimentos e aéreas intenções jamais praticadas, seria uma fé
ilusória. Fé e compromisso com Jesus são absolutamente inseparáveis.
Só para
exemplificar: falando em nome de Cristo, o Magistério da Igreja repete o
ensinamento do Mestre e não aceita que o matrimônio cristão possa ser
dissolvido. Ao “ouvir” este ensinamento, o “fiel” se decide a agir, na prática,
de acordo com a lição recebida. Assim, está provada praticamente a sua fé. Se,
ao contrário, o (in)fiel argumenta, contradiz, busca justificativas de ordem
prática e, afinal, age de maneira diferente, a desobediência manifesta
claramente sua falta de fé.
No final do 4º
Evangelho, depois de ter sabatinado a Simão Pedro, perguntando-lhe por três
vezes se o amava, Jesus ressuscitado resume a missão do primeiro Papa em um
breve e seco imperativo: “Segue-me!” (Jo 21,19b.) Nunca é demais recordar que o
último passo desse “seguimento” seria uma cruz, em Roma: cravado na cruz, Pedro
demonstraria concretamente seu amor e sua fé.
Seja qual for o
nosso estado (leigo, religioso, ministro ordenado...), ele sempre acarreta
deveres: os deveres de estado. É impossível seguir Jesus fora do cumprimento
de nosso dever de estado. A mãe amamenta seu bebê, o pai trabalha para
sustentar a família, o estudante estuda, a contemplativa adora, o paciente
sofre. Se o amor transfigurar tudo isto, então seguimos a Jesus.
Tenho cumprido o
meu dever de estado?
Orai sem cessar:
“Jesus, eu quero ouvir a tua voz!”
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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