Permanecei no
meu amor! (Jo 15,9-11)
Antigamente, falava-se em
“pecados de amor”. Que absurdo! Quem ama não peca! Como disse Santo Agostinho,
“ama e faz o que quiseres” [ama et fac quod vis]. Entendamos bem: aquele
que age movido por um amor autêntico, será incapaz de fazer o mal, ofender,
explorar, abusar, em suma, pecar.
Logo, permanecer no amor de
Jesus, como ele nos pede neste Evangelho, significa desde o início renunciar ao
pecado, que sempre produz uma amputação do tronco da Videira, com seus efeitos
mortais: sair da circulação da graça, perder a seiva do Espírito, murchar,
secar e, por fim, ir ao fogo.
O pano de fundo do convite de
Jesus a permanecer em seu amor é o tema da primeira Encíclica do Papa Bento
XVI: Deus ama o homem. Em seu absoluto, Deus de nada necessita para si
mesmo, mas é todo extroversão, derramando-se sobre a humanidade em permanente
dom. A felicidade humana consiste em acolher esse amor e nele permanecer.
Aquilo que a Bíblia chama de
pecado não é simplesmente um “erro do alvo”, como afirmam certas correntes da
teologia contemporânea. Pecar é trocar o amor de Deus por outro “amor”, seja o
amor do ouro e da prata, do poder e da dominação sobre os outros, seja o amor a
si mesmo elevado acima do divino Amor. De certa forma, podemos dizer que o
pecado é o antônimo do amor. Onde houve pecado, ali faltou amor...
Assim como o amor de Deus se
manifestou em Jesus Cristo, de forma encarnada, quando ensinava, curava e
libertava do maligno, assim também nós somos chamados a encarnar o mesmo amor
em nossa relação com o próximo. Na prática, o próximo - a quem vemos – é o
ícone de Deus – a quem não vemos. Como num reflexo, amamos o homem porque
amamos a Deus. De outra maneira, como a Pequena Teresa poderia dedicar-se, na
oração, a salvar um criminoso condenado à guilhotina?
Quem ama a Jesus Cristo não tem
inimigos, pois vê no criminoso mais monstruoso e decaído a figura de um filho a
quem Deus ama e quer salvar. De outra forma, jamais teríamos cristãos como Dom
Bosco e Teresa de Calcutá, consagrando toda a sua vida àquele resto da
humanidade do qual ninguém desejaria aproximar-se?
Lembremo-nos do Apóstolo João:
“Deus é amor: quem permanece no amor, permanece em Deus.” (1Jo 4,16b)
Orai
sem cessar: “Minha felicidade é estar perto de Deus.” (Sl
73,28)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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