A própria vida
pelos amigos... (Jo
15,12-17)
Nós vivemos entre muitos amores.
Em sua obra magistral “Os Quatro Amores” (Ed. Martins Fontes, 2005), o
escritor irlandês C. S. Lewis deixou bem clara a diferença entre um
amor-necessidade, mero egoísmo, e um amor-doação, que se assemelha ao amor que
Deus manifestou por nós.
Os gregos antigos sabiam
distinguir entre a afeição familiar, o erotismo da paixão, a amizade por
escolha e, enfim, o amor-caridade que leva a dar a vida pelo outro. Por isso
mesmo, utilizavam verbos diferentes para cada um desses “amores”: érein
(amor de Eros), stérguein (amor parental, amor ‘do sangue’), phylein (amor
de amizade) e, enfim, agapán (amor de caridade ou de adoração a Deus).
Neste Evangelho, Jesus nos fala
do amor maior: “Ninguém tem amor maior do que aquele que dá a vida pelos seus
amigos.” E logo ele passaria à ação, abraçando a cruz salvadora e entregando-se
à morte por nós – os amigos -, para mostrar a que culminância atingia o amor de
Deus por nós!
Claro que esse amor não é
merecido! Como observa Lewis, “existe em cada um de nós algo que não pode ser
amado naturalmente. Não é defeito dos outros não amá-lo. Só o que é amável pode
ser amado naturalmente. É como pedir às pessoas que gostem do sabor do pão
embolorado ou do som da furadeira elétrica. Apesar disso, podemos receber
perdão, misericórdia e amor pela Caridade – não há outro modo”.
É assim que Deus nos ama: apesar
de nossos pecados, da lama mal-cheirosa que nos cobre, seu amor de ágape
insiste em nos salvar e santificar, além de toda expectativa humana. Perdão e
misericórdia sem limites são a marca de seu imenso amor por nós. Os santos –
aqueles que mergulharam nesse amor de caridade – manifestam em sua vida o mesmo
amor que não conhece fronteiras.
Abrindo mão de todo projeto
pessoal – inclusive o de conservar a própria vida, como Maximiliano Kolbe,
Gianna Beretta Molla e uma legião de mártires do Séc. XX -, os santos são
impelidos pelo amor a se transformarem em hóstias vivas (Cf. Rm 12,1-2) e
consagrar todos os seus esforços, tempo e recursos humanos para o bem-estar, o
progresso e a salvação dos outros. E o fazem cheios de alegria, pois são
impelidos pelo amor.
Por isso mesmo, quem se encontra
com um santo, encontra-se com Deus...
Orai
sem cessar: “Senhor, tu sabes que te amo!” (Jo
21,16b)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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