Não sabemos... (Mc 11,27-33)
O episódio deste
Evangelho nos dá um exemplo acabado da má consciência que costuma desviar da
verdade aqueles que se sentem ameaçados por ela. Preferem alegar ignorância –
ou afirmar que a verdade não está ao seu alcance – pois uma tomada de posição
os colocaria em terreno inseguro.
João Batista
atraíra multidões, anunciando a proximidade do Reino e pregando um batismo de
penitência. Os homens do Templo recusaram uma coisa e outra. Agora, são os
mesmos personagens – escribas, anciãos e sacerdotes – que vão a Jesus,
questionando a autoridade do Mestre para pregar e curar.
Como resposta,
eles ouvem uma pergunta inesperada: “O batismo que João havia pregado era do
céu ou dos homens?” Isto é, fora algo inspirado por Deus ou apenas um impulso
pessoal do Batista? E eles se veem em uma “saia justa”: como negar a ação
divina diante do povo que reconhecera João como profeta? Mas, se João era um
profeta, por que motivo não acolheram sua mensagem?
Com esta simples
pergunta, Jesus traz à luz a perversão espiritual dos homens do Templo. Assim
sendo, eles acham mais cômodo responder: “Não sabemos...” E quase
acrescentaram: “Nem queremos saber!”
Em nossos dias, é
comum encontrar entre nós o mesmo tipo de “cegueira voluntária”. Em especial
naqueles grupos e pessoas que, se admitissem a verdade do Evangelho, deveriam
ao mesmo tempo mudar de rumo, mudar de vida, deixar de lado seus critérios e valores.
Como isso poderia trazer incômodos e riscos, causar prejuízos materiais ou
fechar as portas do mundo pagão, é mais prático dizer: “Não sabemos!”
Jesus veio ao
mundo para nos salvar da morte eterna. Parte de sua missão consistia em nos
revelar a Verdade sobre Deus e a Verdade sobre o Homem. Foi por suas palavras
que ficamos sabendo que Deus é Pai. E que nós somos filhos!
Ora isso pode ser
muito incômodo: a relação entre Pai e filho inclui a obediência. E uma multidão
de rebeldes prefere traçar o próprio rumo, ainda que o resultado seja um
autêntico naufrágio da civilização humana.
E nós? Podemos
alegar que “não sabemos”? Fecharemos os ouvidos à Palavra do Evangelho?
Recusaremos o convite às bem-aventuranças evangélicas? Vamos ignorar o
magistério da Igreja e o exemplo dos santos? Seguiremos tratando o próximo como
inimigo ou objeto de exploração? Gastaremos o tempo para acumular os tesouros
que a traça vai roer?
Orai sem cessar: “Vou
te louvar, Senhor, com um coração sincero!” (Sl 119,7)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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