Uma fé tão grande... (Lc 7,1-10)
Mais uma vez, nos
Evangelhos, Jesus se mostra admirado ao deparar com manifestações de fé entre
os estrangeiros, enquanto seus próprios conterrâneos não se mostravam dispostos
a fazer aposta semelhante. São Mateus registra que a falta de fé dos nazarenos
chegou a impedir que Jesus fizesse milagres (cf. Mt 13,58). O centurião romano,
ao contrário, foi um desses que ousaram apostar...
André Louf
comenta: “A cada vez que Jesus, no Evangelho, encontra a fé naquele que se
apresenta diante dele, acontece um milagre, infalivelmente. É que em Jesus a
onipotência de Deus habita o mundo, à disposição dos homens”. Isto deve
explicar que os milagres se tornem raros entre nós: pura falta de fé, e não a
indiferença de Deus...
Prossegue o monge
cisterciense: “Se a onipotência de Deus parece, às vezes, pouco operante, pouco
eficaz, é porque ela está como amarrada pela falta de fé exatamente daqueles
que deveriam gerá-la para o bem de todos. Sozinha, basta a fé, mesmo pequenina,
mesmo minúscula como o grão de mostarda no côncavo da mão, para liberar a
onipotência divina e torná-la ativa através da oração de todos aqueles que
passam necessidade”.
No caso deste
Evangelho, ele pergunta: “Em quê a fé do centurião foi excepcional? Primeiro,
simplesmente porque o centurião não é um judeu, mas um estrangeiro que não
pertence ao povo da Aliança. Não apenas um estrangeiro, mas até um inimigo,
oficial do exército de ocupação. A este título, a atitude do centurião é
seguramente espantosa”.
De fato, o militar
que pede a cura de seu escravo não se apoia apenas da fama de Jesus. Vai além.
Ele faz um autêntico ato de fé: “Dize uma palavra... e será curado!” Despido de
sua patente de oficial, ele se humilha e reconhece o poder de Jesus. O
centurião se confessa indigno de ter a presença do Mestre em sua própria casa,
mostrando que a fé costuma fazer dupla com a humildade, enquanto a descrença
tantas vezes se explica pelo orgulho...
“Hoje – conclui
André Louf – os estrangeiros que somos nós, também podemos ser privilegiados da
fé, como o soldado romano. A onipotência divina, outrora rejeitada em Jesus
pelo antigo Israel, permanece atualmente à disposição da Igreja e pode ser
gerada pela pessoa de cada crente, gratuitamente, como um dom inesperado,
imerecido, da parte de Deus.”
É triste pensar no
desperdício da graça gerada pelos sacramentos, no rio de água viva que jorra em
cada celebração eucarística, mas nos encontra alheios e distraídos, preenchidos
por preocupações e empreendimentos meramente humanos, contando apenas com nosso
esforço e suor. E Jesus ali presente, à espera de nosso ato de fé...
Orai sem cessar: “Só
no Senhor está minha esperança!” (Sl 62,6)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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