Por último, enviou o Filho... (Mc 12,1-12)
Sim, por último...
Isto é, esgotadas todas as possibilidades, o Senhor da Vinha vai ao extremo impensável
de arriscar o próprio Filho – Aquele que se encarnou, nascendo de Mulher! – com
gente que não merecia sequer um cacho de uvas... Ele devia mesmo amar a sua
Vinha!
Jean Valette
comenta: “No Antigo Testamento, a vinha é Israel. Os ouvintes de Jesus são
mergulhados por esta imagem em um clima que não podia ser mais familiar. Pelo
menos os mais cultos conheciam a sequência da história. Podiam entender Jesus a
criticar a conduta de Israel, a vinha ingrata. Então, devem ter ficado
desconcertados pela brusca bifurcação operada por Jesus em uma inesperada
direção. Já não se trata da vinha, de fato, mas daqueles que a cultivam, os
chefes religiosos.
Dito isto, os
sumos sacerdotes, os escribas e os anciãos podiam sentir-se ao abrigo das
acusações implícitas de Jesus. Nunca tinham matado profetas, mas veneravam
muito os de outrora, a ponto de edificar-lhes monumentos. No entanto, o que
eles não esperavam – e certamente deve ter causado surpresa neles! – foi a
brusca reviravolta do versículo 6: ‘Ele tinha ainda um filho bem-amado...’”
Aqui está a
“novidade” da parábola: já não se trata simplesmente de acolher os servidores
de Deus – os profetas de antanho -, mas o seu próprio Filho. E a ambição
desmedida que leva a assassinar o próprio Deus não perdoará o Filho dele! Com
sua morte, não terão mais patrão, ninguém para lhes dizer o que fazer, ninguém
para cobrar os frutos de seu investimento...
E aquilo que
parecia um ponto perdido no passado histórico reaparece do burburinho do Séc.
XXI: o grande objetivo consiste em desembaraçar-se de Deus, eliminar da
consciência coletiva a imagem de um Criador que distribui dons e espera por
frutos, o semblante de um Legislador que estabelece normas e traça divisórias
entre o justo e o injusto, a verdade e a mentira, a vida e a morte...
Hoje como ontem, o
olhar humano se recusa a ver um Pai e divisa apenas um feitor. Faz-se de cego à
divina filantropia, e considera apenas as duas tábuas da Lei. Ali onde podia
fitar o horizonte da misericórdia, fotografa apenas a ameaça do Juiz.
E Jean Valette
conclui que, ao matar o Filho, os agricultores assassinos cumpriam, sem o
saber, o amoroso desígnio de Deus: entregar ao mundo o Filho amado, “para que
todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,36)
Orai sem cessar: “A
nossa terra dará seu fruto...” (Sl 85,13)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
30/05/2016 – Por último, enviou o Filho... (Mc 12,1-12)
Sim, por último...
Isto é, esgotadas todas as possibilidades, o Senhor da Vinha vai ao extremo impensável
de arriscar o próprio Filho – Aquele que se encarnou, nascendo de Mulher! – com
gente que não merecia sequer um cacho de uvas... Ele devia mesmo amar a sua
Vinha!
Jean Valette
comenta: “No Antigo Testamento, a vinha é Israel. Os ouvintes de Jesus são
mergulhados por esta imagem em um clima que não podia ser mais familiar. Pelo
menos os mais cultos conheciam a sequência da história. Podiam entender Jesus a
criticar a conduta de Israel, a vinha ingrata. Então, devem ter ficado
desconcertados pela brusca bifurcação operada por Jesus em uma inesperada
direção. Já não se trata da vinha, de fato, mas daqueles que a cultivam, os
chefes religiosos.
Dito isto, os
sumos sacerdotes, os escribas e os anciãos podiam sentir-se ao abrigo das
acusações implícitas de Jesus. Nunca tinham matado profetas, mas veneravam
muito os de outrora, a ponto de edificar-lhes monumentos. No entanto, o que
eles não esperavam – e certamente deve ter causado surpresa neles! – foi a
brusca reviravolta do versículo 6: ‘Ele tinha ainda um filho bem-amado...’”
Aqui está a
“novidade” da parábola: já não se trata simplesmente de acolher os servidores
de Deus – os profetas de antanho -, mas o seu próprio Filho. E a ambição
desmedida que leva a assassinar o próprio Deus não perdoará o Filho dele! Com
sua morte, não terão mais patrão, ninguém para lhes dizer o que fazer, ninguém
para cobrar os frutos de seu investimento...
E aquilo que
parecia um ponto perdido no passado histórico reaparece do burburinho do Séc.
XXI: o grande objetivo consiste em desembaraçar-se de Deus, eliminar da
consciência coletiva a imagem de um Criador que distribui dons e espera por
frutos, o semblante de um Legislador que estabelece normas e traça divisórias
entre o justo e o injusto, a verdade e a mentira, a vida e a morte...
Hoje como ontem, o
olhar humano se recusa a ver um Pai e divisa apenas um feitor. Faz-se de cego à
divina filantropia, e considera apenas as duas tábuas da Lei. Ali onde podia
fitar o horizonte da misericórdia, fotografa apenas a ameaça do Juiz.
E Jean Valette
conclui que, ao matar o Filho, os agricultores assassinos cumpriam, sem o
saber, o amoroso desígnio de Deus: entregar ao mundo o Filho amado, “para que
todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,36)
Orai sem cessar: “A
nossa terra dará seu fruto...” (Sl 85,13)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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