Tu que creste... (Lc 1,39-56)
Entre a Anunciação
- quando anjo Gabriel visita a Virgem de Nazaré - e a Natividade – com a visita
do Messias Salvador à humanidade -, o Evangelho de Lucas situa esta Visitação
que o Evangelho de hoje nos reapresenta. De um lado, Isabel, representante da
Primeira Aliança; do outro, Maria, a primeira mulher da Nova Aliança, já
portadora do Messias em seu ventre sagrado.
Quando ouvira as
palavras do Mensageiro divino, ao responder com seu “faça-se em mim”, Maria
realizava o mais pleno ato de fé: a fé no impossível, acentuado pelo anjo:
“Pois nada é impossível para Deus” (Lc 1,37). E Gabriel anexava um “sinal” às
suas palavras: a gravidez tardia da estéril Isabel, outro impossível aos olhos
humanos.
Quando Maria sai
“às pressas”, rumo aos altos da Judeia, o “serviço” que ela poderia prestar à
parenta idosa não era de modo algum o motor principal de sua viagem. Acima de
tudo, Maria ia conferir o sinal que lhe fora dado. Um ato de fé complementar ao
primeiro ato, mas simultaneamente a manifestação de notável bom senso, que não
fica navegando entre as nuvens, mas tem os pés no chão da realidade.
Uma placa na
estrada só tem sentido se de fato existe o lugar por ela apontado. E é ali, na
casa de Zacarias, que o sentido se manifesta com meridiana clareza. Isabel é
iluminada pelo Espírito de modo a identificar na jovem visitante aquela que
Deus escolhera para ser a Mãe do Salvador. O próprio filho de Isabel, ainda na
vida pré-natal, se agita na alegria gerada pela aproximação daquele que João
Batista iria apontar como o Cordeiro de Deus.
Esta cena da
visitação é conhecida pelos cristãos do Oriente como “Aspasmós”, isto é, o “abraço”.
O Antigo Testamento abraça o Novo. A esperança nas promessas abraça o seu
cumprimento. A aurora abraça o novo dia, ainda que o Sol nascente (cf. Lc 1,78)
superasse ao infinito todas as nebulosas expectativas do passado.
Repleta do
Espírito, Isabel proclama: “Bem-aventurada tu, que creste, pois se hão cumprir
as coisas que te foram ditas da parte do Senhor”. O segredo do Rei, que Maria
não iria revelar nem mesmo a José, é sussurrado pelo Espírito ao coração de
Isabel. E assim Maria de Nazaré tem a confirmação de que não apostara em alguma
ilusão, mas caminhava em terreno firme. O único terreno firme em nosso planeta:
o território da fé.
A festa litúrgica
da Visitação deve ser para nós um convite a apostar na fé. Acima dos
impossíveis e além das evidências, nós recebemos uma Palavra que nos interpela:
é pegar ou largar...
Orai sem cessar: “Terei
confiança no Senhor!” (Is
8,17)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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