Pediram que fosse embora... (Mt 8,28-34)
Os exegetas racionalistas afirmam que os demônios não
existem. São figuras nascidas da superstição. Segundo esses doutores, os
antigos chamavam de possessão aos casos de epilepsia, alucinações, demência.
Ora, para desespero dos
sábios, o Evangelho de hoje registra uma anomalia médica: a epilepsia suína.
Os demônios expulsos dos dois possessos invadem a grande manada (2000 porcos,
anota São Marcos! Cf. Mc 5,13) e, subitamente infectados pela “moléstia”, os
porcos têm um acesso de epilepsia (sic) e se lançam ao mar, em
lamentável episódio de suicídio coletivo!
Ironia à parte, o fato é que os moradores da cidade
próxima (Gadara? Gerasa?) não se alegraram com a libertação dos dois infelizes.
Ao contrário, ficaram chocados com o grande prejuízo e pediram a Jesus – aquele
desmancha-prazeres – que se retirasse da região. Com mais alguns milagres da
mesma natureza, iriam todos à falência...
Até poderíamos achar graça se o mesmo não acontecesse
conosco... Quanta gente mantém distância do Senhor, temendo que ele peça algum
sacrifício, proponha alguma privação, algum gesto de heroísmo espiritual?
Quanta gente vive em busca de um Deus lucrativo, que faça da religião um
investimento? Quanta gente seguindo a “teologia da retribuição”, segundo a qual
Deus fica obrigado a multiplicar os dons e ofertas que damos à Igreja! E quanto
mais somos fiéis, mais ricos ficamos!
Ora, nosso Deus é pobre. Jesus Cristo não tinha onde
reclinar a cabeça. Andava a pé. Não foi aclamado sobre um cavalo puro-sangue,
com arreios de prata, mas sobre um ridículo jumentinho! E os ricos que se
aproximavam do Mestre não demoravam a empobrecer, como Zaqueu a distribuir os
bens acumulados de modo fraudulento.
E que tal o elogio feito
por Jesus àquela viúva pobre, que jogou no cofre das esmolas seus dois últimos
tostões? (Cf. Mc 12,42-44.) E a condição imposta ao jovem rico que ansiava por
segui-lo: vender todos os seus bens e doar aos pobres? (Cf. Lc 18,22-23.) Não
temos outra escolha: ou Deus ou as riquezas. (Cf. Mt 6,24b.) Se tentamos
conciliar as duas coisas, acabamos por chegar à situação dos Gadarenos:
lamentar os prejuízos causados por Jesus. E pediremos que ele vá para bem longe
de nós...
A quem escolher? Jesus?
Ou os porcos?
Orai sem cessar: “Não tenho senão a
Vós, Senhor!” (Est 14,14b)
Texto de Antônio Carlos
Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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