Felizes os pobres em espírito! (Mt 5,1-12)
O Sermão 95 de São Leão Magno nos ajuda a penetrar o
sentido desta bem-aventurança de Jesus.
“Quando Jesus diz: ‘Felizes os pobres em espírito”, ele
nos mostra que o Reino dos céus será dado antes à humildade do coração que à
ausência de riquezas. Entretanto, não se duvide de que os pobres obtenham este
bem mais facilmente que os ricos, pois a pobreza os inclina bem mais à bondade,
e a riqueza dos outros leva-os mais à arrogância.
No entanto, muitos ricos possuem este espírito que dispõe
a abundância não a serviço de seu prestígio, mas das obras de caridade. Para
estes, o maior ganho é aquilo que eles gastam para aliviar a miséria e o
sofrimento de outrem. Assim, a humildade do coração é dada em partilha aos
homens de todas as condições. É possível ser igual nas disposições, mesmo sem
ser igual quanto à fortuna.
Seja qual for a desigualdade de seus bens terrenos, não
há distância entre aqueles que são iguais no nível dos bens espirituais.
Bem-aventurada, pois, a pobreza que não deseja aumentar a riqueza de seus bens
aqui em baixo, mas aspira a se enriquecer dos bens celestiais.
Seguindo o Senhor, os primeiros que nos deram o exemplo
desta pobreza magnânima foram os apóstolos. Deixando, sem hesitar, todos os
seus bens ao chamado do divino Mestre, eles se converteram alegremente e
abandonaram sua pesca de peixes para se tornarem pescadores de homens (cf. Mt
4,18-20). Entre estes, muitos se assemelharam a eles ao imitar sua fé: entre os
primeiros filhos da Igreja, ‘todos os fiéis tinham um só coração e uma só alma’
(At 4,32). Despojados de todas as suas posses, estavam enriquecidos dos bens
eternos graças à santa pobreza. A partir da pregação dos apóstolos, eles se
alegravam por nada possuírem neste mundo e tudo possuir em Cristo.”
Vivendo em pleno sistema capitalista, em uma sociedade de
produção e consumo, vítima do bombardeio de saturação da publicidade na mídia,
é possível que um cristão hesitante passe a valorizar os bens materiais, como
se neles estivesse sua felicidade e seu destino neste mundo. Para esse cristão,
esta bem-aventurança de Jesus pode parecer antes uma ameaça. E o anúncio da Boa
Nova acaba travestido em perdas e danos.
É por isso mesmo que todos nós precisamos de conversão...
Orai sem cessar: “Este pobre pediu socorro
e o Senhor o ouviu.” (Sl 34,7)
Texto de Antônio Carlos
Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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