O fogo e a espada... (Lc 12,49-53)
O
fogo queima. A espada fere. O fogo rechaça as trevas. A espada separa a mentira
da verdade. O fogo cauteriza as feridas. A espada revela as intenções
profundas. Jesus é ao mesmo tempo o fogo e a espada.
Como
diz André Louf, Jesus é sinal de contradição e pedra de tropeço contra os quais
o ódio e o mal se chocam e são esmagados. Ele é a luz que não é recebida pelas
trevas, profeta rejeitado por seu povo.
Assim
como o profeta Jeremias (primeira leitura da liturgia de hoje), Jesus “é
essencialmente contestado pelo mundo ao qual se dirige. Sua presença
inevitavelmente ateia um braseiro, exacerba o conflito e, como uma espada,
volta-o contra si mesmo. A tal ponto que Jesus morre disso, primeira vítima da contestação
que ele veio acender”.
O
agricultor nos ensina que é preciso ferir a terra se queremos que ela acolha a
semente e dê muitos frutos. E a terra se deixa ferir pela lâmina do arado,
colaborando para a futura colheita. Ferida, aerada, revolvida, eis a terra
pronta a gerar a vida...
Como
observa André Louf, “existem rupturas que são necessárias para que a vida
encontre um caminho. Rupturas e desapegos. A flor, por mais bela que ela seja,
é efêmera. Ela deve murchar e cair para que o fruto apareça e amadureça. Uma
vez maduro, o fruto não pode permanecer para sempre sobre a árvore, como sua
glória e seu ornamento. O fruto será colhido, isto é, arrancado, ou se
desprenderá por si mesmo.
E se
a semente no coração do fruto quer encontrar o caminho da terra, é preciso que
ele se decomponha e apodreça. E se o grão quer germinar, é preciso que ele
morra na cavidade do sulco. Só então ele dará fruto. Do contrário, permanece
só, estéril, inútil...”
Como
se vê, é uma lei da existência. É preciso morrer para gerar a nova vida. Jesus
nos alerta para a ilusão de uma espécie de “paz” que nos torna estéreis, um
tipo de serenidade que nos imobiliza, uma forma de segurança que nos petrifica.
É por isso que Jesus desperta a oposição de quem repele a vida, é alvo do ódio
de quem teme as mudanças, sofre o combate de quem não quer um mundo novo.
Enquanto
isso, os santos caminham para a morte, certos da ressurreição...
Orai sem cessar: “Ele vos batizará com o
Espírito Santo e com fogo...” (Mt 3,11)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade
Católica Nova Aliança.
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