Uma espada de dor... (Lc
2,33-35)
A contemplação das dores de Maria é bem mais que uma
piedosa tradição do povo católico. Trata-se de um remédio para muitos males de
nosso tempo, como a doença de buscar a felicidade a todo preço, em qualquer
circunstância, como se fosse possível passar pela Terra sem sofrer.
Maria de Nazaré é uma Mulher, escolhida por Deus para a
missão única de ser a Mãe do Salvador. Mas esta escolha não faz dela um anjo,
puro espírito, vacinado contra a dor. Não lhe dá nenhum privilégio neste vale
de lágrimas onde vivemos. Ao contrário, profundamente humana, Maria participa
em tudo de nossa humanidade, com suas angústias e inquietações, até o clímax do
Calvário.
E exatamente por conhecer na sua própria carne a dor
humana, Maria sabe fazer o papel de nossa intercessora junto a Jesus, sempre
terna e compadecida diante de nossas dores, nossas perplexidades, nossas
angústias... e até mesmo de nossos pecados...
Certo exagero em ver a Mãe de Deus como rainha coroada,
cercada de anjos, pisando em nuvens, revestida de tons dourados, pode nos dar
uma visão falsa de Maria. Não podemos esquecer a jovenzinha de Nazaré, a mãe
que amamenta o filho, a dona de casa que cozinha, lava roupa e varre a casa.
Esta é a Maria real. Esta é a Maria que sofre.
Vem deste Evangelho o costume de retratar N. Sra. das Dores
com uma espada no coração. A dor que ela experimenta neste episódio brota da profecia
de que seu Filho será um “sinal de contradição”, isto é, levará as pessoas a
tomar uma decisão: ser a favor ou ser contra Jesus Cristo.
Assim como a espada separa a carne que ela atinge, assim
também a pessoa de Jesus exige um corte radical entre o pecado e a salvação,
entre o erro e a verdade, entre as trevas e a luz. “Simeão define Jesus como o
sinal colocado por Deus, que obriga inevitavelmente todo homem a se decidir:
para a morte ou para a vida. Embora ele seja sinal de salvação, sempre encontrará
oposição. E aqui serão reveladas as perplexidades, as dúvidas e as maldades
ocultas no coração do homem.”
Assim, as palavras de Simeão a Maria já antecipam o anúncio
da Paixão de Cristo: “Uma espada transpassará a tua alma”. E como ninguém está
tão unido a Jesus quanto Maria, a rejeição contra o Filho há de ferir também o
coração da Mãe. Apesar da dor, Ela permanecerá sempre fiel a seu Filho, sem se
fazer de vítima, sem fazer do sofrimento uma desculpa para compensações.
O sofrimento de Maria é uma COM-PAIXÃO. Ela sofre a Paixão
de seu Filho. Somos chamados a sofrer a mesma dor. Sofrer ao ver que Jesus é
rejeitado, agredido, caluniado. Sofrer quando o mundo recusa a salvação por ele
oferecida. E ao ver desperdiçado o sangue derramado por todos nós.
Orai sem cessar: “Completo na minha carne o que falta à Paixão
de Cristo... (Cl 1,24)
Texto de Antônio Carlos Santini,
da Comunidade Católica Nova Aliança.
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