Um olhar de indignação... (Mc 3,1-6)
Neste
Evangelho, Jesus de Nazaré faz uma pergunta aos presentes reunidos na sinagoga:
“É lícito, ou não, salvar uma vida em dia de sábado?” O que está em questão é
certa hierarquia no conjunto de mandamentos e preceitos. E existe, para os
judeus, um valor supremo: a vida humana. Para preservá-la, era lícito quebrar
qualquer preceito, com três exceções: a interdição do homicídio (mesmo como
autodefesa!), do adultério e da idolatria. No caso de risco iminente de
idolatria, os sábios do Talmud admitiam até mesmo o suicídio. Foi assim que os
defensores da fortaleza de Massada preferiram matar-se a se renderem aos
romanos que sitiavam a montanha.
Diante da
pergunta de Jesus, na sinagoga, todos se calam, mesmo conhecendo a resposta. É
o sinal muito claro da má consciência. Esperavam que Jesus curasse no sábado
para, a seguir, acusá-lo de impiedade.
Em sua indiferença para com o
aleijado, de certa forma, repetem a pergunta de Caim: “Sou eu, por acaso, o
guarda de meu irmão?” E o “irmão” está ali, bem à frente deles: o homem de mão
seca. Se fosse o jumento caído no fosso em pleno sábado, correriam a retirá-lo.
Já o homem aleijado deveria esperar pelo dia seguinte, se algum médico se
dispusesse a cuidar dele...
Daí o olhar
de Jesus: olhar de indignação. No latim da Vulgata, Jesus olhou em volta “cum
ira”. É das raras situações em que Jesus aparece dominado por sentimentos
dessa natureza. Antes, o vemos calmo, amoroso, comovido com a dor alheia, até
mesmo em lágrimas pelo amigo morto. E que é que deixa Jesus irado? A perda do
sentido do sagrado (como quando expulsa os mercadores do Templo) e a
indiferença diante das necessidades dos pequenos deste mundo, sejam as
criancinhas (espantadas pelos discípulos), os leprosos (marginalizados pela
sociedade) ou os enfermos (como este homem “de mão seca”)...
Examinemos hoje
nossa própria vida. Qual será o olhar de Jesus sobre nós, levando-se em conta
nossas atitudes nestas duas situações: o respeito pelas coisas sagradas e nossa
acolhida aos mais abandonados? Seria um olhar de aprovação e alegria? Ou um
olhar de indignada desaprovação?
Afinal, há
dois tipos de Templo onde Deus habita: o templo material (feito de pedras,
madeira, alvenaria, como a basílica romana e a capelinha no alto do morro) e o
templo humano (o coração do homem e da mulher, o ancião abandonado, a criança
inocente e o embrião indefeso, todos eles habitados pelo Espírito de Deus).
Como está
nossa veneração pelo Templo do Senhor?
Orai sem cessar: “Senhor, tu me tomaste a mão direita!” (Sl 73,23)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova
Aliança.
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