Uma grande multidão... (Mc 3,7-12)
O Evangelho
de hoje nos mostra Jesus de Nazaré procurado, cercado e quase atropelado pelas
multidões, a tal ponto que os discípulos precisam protegê-lo, “isolando-o” em
uma barca. A Palestina invadida e dominada pelas legiões romanas vivia um
momento de grande mobilidade social. As terras devastadas não só haviam
deslocado parte da população, mas deixaram grande massa do povo sem trabalho fixo.
Sem dúvida, grupos itinerantes percorriam as estradas em busca de trabalho e de
pão. Isto pode explicar, em parte, que o Mestre tivesse tantos ouvintes.
Independente
desse contexto histórico, Jesus Cristo sempre atrairá multidões. O mesmo
ocorreria com seus missionários (Vicente de Paulo, Luís de Montfort, Emiliano
Tardiff, Pio de Pietrelcina). Quando João Paulo II esteve na França pela última
vez, a mídia anticlerical se perguntava, atônita, o que é que atraía tal
multidão para vê-lo e ouvi-lo. Na Jornada Mundial da Juventude, em Colônia
(2005), já com Bento XVI, a mesma perplexidade vazava em rios dos jornais da
TV.
De algum
modo, o povo percebe a presença de Cristo em seus representantes e busca por
sua Palavra como nos tempos de sua passagem pela terra. Mais que no íntimo de
cada um, é nas multidões que fica mais nítida a fome de Deus. De fato, ele anda
conosco. É disso que falo em meu soneto “O Caminheiro”:
Se baixo
o olhar dos celestiais espaços
E fito a
Humanidade em seus caminhos,
Eu vejo pés
feridos nos espinhos
Gravando as
marcas rubras de seus passos.
Passadas trôpegas, os membros lassos,
Batidos pelos ventos mais mesquinhos,
Trigo inerme ante a roda dos moinhos,
Vejo o povo partido em mil pedaços...
Pobre gente!
Imagina que vai só
No seu
caminho, feito lama e pó,
Romaria de
dores e pecados...
E não percebe – oh! universal loucura! –
Que, no sendeiro grave de amargura,
Jesus Cristo caminha ao nosso lado...
Orai sem cessar: “Feliz o povo que sabe te aclamar!” (Sl 89,16)
Texto e poema de Antônio Carlos Santini, da Comunidade
Católica Nova Aliança.
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