Vieram para detê-lo... (Mc 3,20-21)
Apenas dois
versículos do Evangelho são suficientes para evidenciar as barreiras
experimentadas por Jesus Cristo em seu ministério. Que ele fosse perseguido
pelos saduceus, é natural: eles detinham o poder religioso e lucravam com isso;
Jesus dá de graça a cura e o perdão. Que Jesus fosse contestado pelos fariseus,
entende-se: eles pregavam a Lei na pedra fria; Jesus apontava para a
misericórdia.
Desta vez,
porém, os inimigos são “de dentro”: “Até o amigo em quem eu confiava, também
aquele que comia do meu pão, levanta contra mim seu calcanhar”. (Sl 41[40],10.)
Desta vez, são os familiares de Jesus que o procuram “para detê-lo” em sua
missão, pois um aprendiz de carpinteiro que se faz de profeta e taumaturgo, só
pode ter enlouquecido...
Curar é
sinal de loucura? Falar do amor do Pai é coisa de demente? Preferir os
marginais é sintoma de desequilíbrio mental? Foi exatamente isto o que eles
pensaram...
Ainda hoje,
pode parecer loucura apostar na esperança. Optar por uma vida simples e sóbria.
Acreditar no amor e na fidelidade. Loucuras... para o mundo pagão.
Entre outras
loucuras modernas, destaca-se a misericórdia. É neste momento que apontam o
“bandido morto” como o “bandido bom”. É neste Séc. XXI que reclamam a pena de
morte para justiçar o criminoso. É em nossos dias que os pobres são expulsos de
seu lar quando não podem pagar as prestações da casa própria.
Daí, a
importância e a atualidade das palavras do Papa Francisco em sua Carta
apostólica “Misericordia et Misera”,
de novembro de 2016:
“Querer
estar perto de Cristo exige fazer-se próximo dos irmãos, porque nada é mais
agradável ao Pai do que um sinal concreto de misericórdia. Por sua própria natureza,
a misericórdia torna-se visível e palpável numa ação concreta e dinâmica. Uma
vez que se experimentou a misericórdia em toda a sua verdade, nunca mais se
volta atrás: cresce continuamente e transforma a vida. É, na verdade, uma nova
criação que faz um coração novo, capaz de amar plenamente, e purifica os olhos
para reconhecerem as necessidades mais ocultas. [...]”
“A misericórdia renova e redime, porque é o encontro de
dois corações: o de Deus que vem ao encontro do coração do homem. Este
inflama-se e o primeiro cura-o: o coração de pedra fica transformado em coração
de carne (cf. Ez 36, 26), capaz
de amar, não obstante o seu pecado. Nisto se nota que somos verdadeiramente uma
‘nova criação’ (Gl 6,15): sou
amado, logo existo; estou perdoado, por conseguinte renasço para uma vida nova;
fui ‘misericordiado’ e, consequentemente, feito instrumento da misericórdia.”
(MeM, 16)
Seremos
loucos a ponto de seguir este caminho?
Orai sem cessar: “O que é loucura de Deus é mais sábio que os homens.” (1Cor
1,25)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova
Aliança.
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