E foi morar em Cafarnaum... (Mt 4,12-23)
Por que
Jesus deixou Nazaré e se transferiu para Cafarnaum? Parece que o Messias não
levou em conta a fama da nova cidade... À beira do Lago de Genesaré, está a
terra de Zabulon e Neftali, as duas primeiras tribos que experimentaram o
castigo dos assírios e foram vergonhosamente arrastados para o exílio (cf. 2Rs
15,29). É por ali mesmo, neste centro comercial, que passam e se misturam os
pagãos, fenícios e samaritanos, deixando as sementes de seus sórdidos costumes.
Pois é ali que Jesus vem residir...
Para espanto
dos fariseus da Judeia e dos saduceus do Templo, Jesus escolhe a companhia dos
corrompidos, dos desprezados, dos que vivem à margem. Nas palavras de Hébert
Roux, “é para a parte mais desprezada de Israel – a Galileia dos pagãos –
aquela que melhor representa o sofrimento e a miséria espiritual de seu povo, é
para as ‘ovelhas perdidas da casa de Israel’ que Jesus se volta primeiro para
anunciar a Boa Nova. Esta é destinada àqueles que, sendo pobres e desprezados,
têm a oportunidade de acolher a graça que lhes é dada”.
Como será
acolhida a presença de Jesus? Como receberão o novo Morador? Terão olhos de ver
e ouvidos de ouvir? Como reagirão aos milagres e às palavras do novo Visitante?
Valerá a pena esse itinerário na direção do pecador?
Se o leitor
estender a vista até o capítulo 11 do mesmo Evangelho, concluirá de modo
negativo: “E tu, Cafarnaum, acaso serás elevada até o céu? Até o inferno serás
rebaixada! Pois se os milagres realizados no meio de ti se tivessem produzido
em Sodoma, ela existiria até hoje! Eu, porém, te digo: no dia do juízo, Sodoma
terá uma sentença menos dura que tu!” (Mt 11,23-24)
Desperdício
da Graça? Tudo indica que sim. E acendem-se para nós todos as luzes vermelhas
do alerta máximo. Estamos tão acostumados à suave pregação do Deus
misericordioso – e ele o é de fato! –, que acabamos por fazer corpo mole,
deixamos de cooperar com a Graça e acabamos em uma atitude de grosseira
indiferença em relação a nosso destino último.
Afinal, de
que adianta o anúncio de um novo Reino, a proclamação de uma Boa Nova, se a
nossa atitude continua velha? Como observa Hébert Roux, “o tempo em que o Reino
está próximo, isto é, em que Deus se aproxima de seu povo para exercer sua
justiça, é também o tempo em que é possível arrepender-se, ou seja, reconhecer
para si mesmo a necessidade de uma justiça nova: a novidade da mensagem implica
a novidade daquele que recebe a mensagem”.
Nos últimos
tempos, Jesus tem-se mudado para muitas cidades, muitas paróquias, muitas
comunidades. Como terão recebido o novo morador?
Orai sem cessar: “Eis que estou à porta e bato...” (Ap 3,20)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova
Aliança.
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