E riam-se dele... (Mc 5,21-43)
Talvez seja
este um dos aspectos mais chocantes de todo o Evangelho: Jesus provocava o riso
e a zombaria daqueles que o rejeitavam. Por quê?
Bem, Jesus
era pobre. Enquanto os ricos recebem cumprimentos e louvores, salamaleques e
rapapés, os pobres são alvo de escárnios e galhofas.
Depois
disso, Jesus era um Galileu, isto é, um roceiro. Ele devia falar com o sotaque
próprio daquelas bandas, provocando chacotas dos moradores da Judeia. É bom
lembrar que até Simão Pedro, um simples galileu, foi identificado exatamente
pelo sotaque de roceiro (cf. Mc 14,70).
Mais ainda:
Jesus elogiava a pobreza e mostrava a vaidade das riquezas, dava valor às
coisas espirituais e diminuía o brilho do dinheiro, do luxo, do poder. Natural,
quem andava em busca destas coisas, devia considerar sua pregação como loucura
(cf. Mc 3,21). E debochavam do Galileu sonhador...
A coisa não
para aí: o ensinamento de Jesus parecia chocar-se com a antiga Lei de Moisés em
certas referências aos costumes, preceitos e até mesmo o Templo de Jerusalém.
Chegam a dizer que Jesus está possesso de um demônio! (Cf. Mc 3,30.)
Querem desprezo maior?
Mas este
Evangelho traz mais um motivo que levava os adversários a zombar dele: a menina
está morta – eles já decidiram isto – e Jesus ousa dizer que ela apenas dorme.
Este ato de esperança é intolerável para aqueles que cultuam a morte. Desta
vez, as caçoadas são ostensivas, pois o Rabi da Galileia age como quem ignora
todas as evidências materiais. E tome troças e motejos!
Hoje a
situação é bem a mesma. Uma civilização da morte aprova o aborto e a eutanásia,
faz comércio de armas e acumula ogivas atômicas em seus arsenais; se surge
alguém a favor da vida, será o alvo preferencial dos difamadores e zombeteiros.
Em uma de suas viagens à França, o saudoso Papa João Paulo II foi rotulado pela
mídia anticlerical de bobo e de palhaço. No mesmo país, Madre Teresa de Calcutá
era acusada de usar os miseráveis para recolher fortunas.
Os inimigos
de Cristo não têm limites em seu sarcasmo. Mas espera por eles o mesmo susto dos
contemporâneos de Jesus, quando disse à menina: “Thalita, kum!”, isto é,
“Menina, levanta-te!”, e ela imediatamente se pôs de pé.
Se um de nós
ouve o imperativo de Jesus e se põe de pé, mesmo quando todos apostam em nossa
morte espiritual e moral, Jesus fica livre de tantas infâmias. Quem sabe,
reconhecerão o seu poder e invocarão seu santo Nome?
Orai sem cessar: “Meu Deus, livrai-me das garras do inimigo!” (Sl 71 [70],4)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova
Aliança.
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