Estava lá a mãe de Jesus... (Jo 2,1-11)
Um casamento
na roça. Em Caná de Galileia, região de mestiços e capiaus, alvo do desprezo e
da zombaria dos figurões de Judá. Mal iniciada a festa, o vinho vem a faltar.
Para os padrões daquela sociedade, casamento sem vinho é um fracasso. Onde está
o vinho, aí está a alegria. Tudo faz pensar em gente pobre, um noivo sem muitos
recursos e – quem sabe – uma inesperada afluência de “convidados”: os numerosos
discípulos que já acompanhavam Jesus de Nazaré.
Mas, como
anota o evangelista João, “estava lá a Mãe de Jesus”... E foi ela quem percebeu
a situação constrangedora. Enquanto os convivas cuidam de si mesmos, ela está
atenta às necessidades dos outros. Por isso mesmo, Maria se dirige ao Filho e
apresenta-lhe a situação: “Eles não têm vinho...” E o faz como quem sabe que
seu Filho tem condições de resolver o problema. A Mãe conhece o seu Filho.
Até onde dá
a perceber o texto um tanto obscuro, Jesus tenta esquivar-se do caso, como se
não tivesse nada a ver com a situação. Maria ouve a resposta do Filho, mas age
como quem vê por outro ângulo. E dá aos serventes – seguramente primos e
parentes do noivo – a ordem que ainda ressoa em nossos ouvidos: “Fazei tudo o
que ele vos disser!” A obediência deles garante a todos um agradável desfecho:
notável quantidade de vinho, somada à qualidade ainda mais notável!
Esta
passagem do Evangelho de João, por mais pitoresca que ela seja, acaba por se
tornar “incômoda” para aqueles que duvidam da intercessão da Mãe de Deus, como
se isto reduzisse o poder e a honra de seu Filho. Temos aqui uma situação bem
concreta: há uma necessidade material, Maria a percebe e pede a interferência
de Jesus. Apesar de uma recusa inicial, o Mestre “cede” e faz o primeiro
milagre de sua vida pública.
Aliás, nada
mais claro como imagem da Igreja que intercede junto a Deus pelas necessidades
do povo. É em Maria que a Igreja se inspira para assumir sua missão de
intercessora.
E tem mais!
Não se trata de alguma cura que pudesse ser traduzida como fenômeno
“psicossomático” ou alucinação coletiva: trata-se de uma autêntica
transformação da matéria, água transmudada em vinho, com todas aquelas
diferenças organolépticas que envolvem cor, aroma e sabor.
Daquele dia
em diante, os pobres da roça ficaram sabendo que a Mãe de Deus pode influir nas
decisões do Filho. Ficaram sabendo que a misericórdia sempre move o poder. Os sérios
acadêmicos continuam esperneando. Mas os pobres e humildes preferem crer em
seus próprios sentidos...
Orai sem cessar: “Mãe dos pobres, rogai por nós!”
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova
Aliança.
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