Vós sois o sal da terra... (Mt 5,13-16)
Segundo Jesus, no Sermão da Montanha, nós somos o sal da terra. Será que já somos? Ele
usou o verbo no Indicativo Presente... Parece que o Senhor deseja que nós recebamos
esta definição antes como uma “promessa”, um lembrete daquilo que podemos vir a
ser, caso nos deixemos transformar por sua Graça.
Hébert Roux, ao comentar esta passagem, afirma que Jesus “não
pretende qualificar um estado natural pelo qual os discípulos se distinguiriam
do comum dos mortais; no entanto, esta passagem traz à luz uma espécie de
oposição entre aqueles aos quais Jesus se dirige e o meio em que eles estão
mergulhados com um objetivo particular”.
Parece correto. Na vida prática, o sal se mistura aos
alimentos e transforma o seu sabor. O sal existe para isso. Misturar-se, desaparecer na mistura, mas deixar a marca
de sua presença. Do contrário, falharia em sua missão.
Hébert Roux prossegue: “Ao fazer a seus discípulos
semelhantes declarações, Jesus entende designá-los para uma missão particular e
dar-lhes uma ordem. Vê-se aí
essencialmente a expressão de um programa, o enunciado da verdadeira vocação
cristã. E a exigência de Jesus é acompanhada até de uma ameaça e uma
advertência: o sal corre o risco de perder o seu sabor e, desde então, não
serve para mais nada, falha em sua finalidade, sua verdadeira destinação”.
Claro que, por nós mesmos, não temos a capacidade de ser o
sal que dá sabor, nem a luz que ilumina as trevas da humanidade. A única saída
está em acolher uma vida que nos vem do próprio Cristo.
E se o Senhor nos dá esta ordem,
fica implícito que ele nos faz uma promessa.
Afinal, trata-se do mesmo Mestre que nos garantiu a vinda do Espírito Santo (cf.
Jo 14,26), o mesmo Senhor que afirmou estar conosco até a consumação dos
séculos (cf. Mt 28,20).
Isto posto, cai por terra a cômoda possibilidade de alegar
que não sou capaz, que sou humano como os outros, que sou igualmente pecador. É
que não se trata de um programa para anjos transparentes, nem para titãs e
super-heróis, mas para os fiéis que receberam no Batismo o Espírito Santo, que
ilumina e vivifica.
Orai sem cessar: “E à tua luz nós vemos
a luz!” (Sl 36,10)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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