Um
par de rolinhas... (Lc
2,22-40)
Este Evangelho nos apresenta uma
cena de resgate. Nada mais atual, lugar comum de nossos noticiários. Alguém é
sequestrado e cobra-se um resgate pela sua libertação. Toma lá, dá cá...
Entre os hebreus, desde a Aliança
com Abraão, os primogênitos não pertenciam aos pais, mas a Deus: “Apartarás
para Iahweh todo ser que sair por primeiro do útero materno, e todo primogênito
dos animais que tiveres: os machos serão para Iahweh”. (Ex 13,11) Em uma espécie
de acordo, trocava-se o primogênito animal por outra vítima: um precioso
jumentinho por um cordeiro comum. “Mas todo primogênito do homem, entre teus
filhos, tu o resgatarás.” (Ex 13,13) A vida humana está acima de todo valor.
O rito judaico incluía o simbolismo
da libertação da escravidão do Egito, quando a morte dos primogênitos do país
fora o preço da saída de Israel para a Terra Prometida. Na cerimônia do
resgate, se o rico oferecia um touro, novilho ou cordeiro, os pobres – como
José e Maria – apresentavam como vítimas duas humildes pombas ou duas rolinhas,
pequenos animais de ínfimo valor.
Seja como for, para “recuperar” seu
pequeno, também os pobres deviam “sacrificar”. E as vítimas sacrificadas foram
duas rolinhas. A salvação tem um preço. Já no célebre episódio de Abraão (Gn
22), também a sobrevida de Isaac foi obtida graças à imolação de um cordeiro
que surgiu com os chifres presos ao espinheiro. Um morre pelo outro: vítimas
vicárias...
Ora, o menino resgatado por José e
Maria irá crescer. Será identificado por João Batista como o “Cordeiro de
Deus”, o que tira o pecado do mundo (cf. Jo 1,29). Este é o Cordeiro, a vítima
definitiva. É em seu sangue que seremos lavados de nosso pecado; foi ele o
preço de nosso resgate, condenados que éramos à morte definitiva: “De fato,
fostes comprados, e por preço muito alto!” (1Cor 6,20) Custamos o sangue de
Deus...
Em cada missa, o altar é a pedra do
Calvário, onde se atualiza o primeiro (e definitivo) sacrifício. Jesus Cristo –
o unigênito do Pai – dá sua vida por nós. Seu sangue nos lava em definitivo. Já
não há culpa nem acusação, pois “Deus anulou o documento que, por suas
prescrições, nos era contrário e o eliminou, cravando-o na cruz” (Cl 2,14).
Assim descobrimos o valor do
sacrifício que salva. O amor que aceita pagar um preço pela salvação do
outro...
Orai sem
cessar: “Vim para
oferecer um sacrifício ao Senhor.” (1Sm 16,2)
Texto de
Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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