Não está na moda falar no inferno. A
onda racionalista nega a existência do demônio e, após duas guerras mundiais,
duas bombas atômicas e a ameaça de uma conflagração planetária, chega a dizer
que “o inferno é aqui mesmo”.
Mas não foi
isso que Jesus ensinou. Em várias passagens do Evangelho, Jesus fala da
possibilidade (terrível!) de se viver uma eternidade afastado de Deus.
Imediatamente após a morte, passamos por um julgamento ou juízo particular (cf.
Hb 9, 27), onde se define irrevogavelmente o nosso destino. Jesus usou de
muitas imagens para transmitir a visão desta realidade espiritual, entre elas a
separação entre cordeiros e cabritos, ao final do dia, como os pastores
costumavam fazer na Palestina (cf. Mt 25, 31ss.).
No Evangelho
de hoje, Jesus recorreu à imagem da Geena com seu fogo inextinguível. A Bíblia
de Navarra comenta em nota: “Geena ou
Ge-hinnom era um pequeno vale ao sul
de Jerusalém, fora das muralhas e mais baixo do que a cidade. Durante séculos
esse lugar foi utilizado para depositar o lixo da povoação. Habitualmente esse
lixo era queimado para evitar o foco de infecção que constituía e a acumulação
do mesmo. Era proverbial como lugar imundo e doentio. Nosso Senhor serve-se
desse fato conhecido para explicar, de modo gráfico, o fogo inextinguível do
inferno.”
Esse mesmo
vale fora local de cultos idólatras, visto como lugar maldito. Além disso, era
comum que o lixo ali acumulado, em clima quente e seco, entrasse em combustão
espontânea. Talvez houvesse algum fogo permanente em sua vegetação semelhante à
turfa. Imagens, apenas, mas falam aos nossos sentidos humanos sobre uma
realidade que ninguém imaginaria com realismo.
Claro que o
inferno não pode ser um “lugar”, um espaço na topografia, em sentido meramente
material. O “Catecismo” o apresenta como um “estado”. Eis sua lição: “Não
podemos estar unidos a Deus se não fizermos livremente a opção de amá-lo. Mas
não podemos amar a Deus se pecamos gravemente contra Ele, contra nosso próximo
ou contra nós mesmos. [...] Morrer em pecado mortal sem ter-se arrependido dele
e sem acolher o amor misericordioso de Deus significa estar separado do
Todo-Poderoso para sempre, por nossa própria opção livre. E é este estado de
autoexclusão definitiva da comunhão com Deus e com os bem-aventurados que se
designa com a palavra “inferno”. (Nº 1033.)
Sem
fogueiras, sem tridentes. Mas, acima de tudo, inferno sem amor...
Orai sem cessar: “Amo-te com amor
eterno.” (Jr 31,3)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova
Aliança.
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