Os
discípulos se assustam. Daí a pergunta inquietante. Nós também devíamos
imitá-los. Camelos gordos, dificilmente passaríamos pelo buraco da agulha. E
Jesus diz: é impossível para os
homens... Meditemos no que nos diz o teólogo e pastor Helmut Gollwitzer,
profeta na resistência ao regime nazista:
“Do ponto de
vista humano, a questão da vida eterna só poderia culminar em um fracasso,
chocando-se ao muro deste ‘impossível’! O destino ou as condições desfavoráveis
da existência humana nada têm a fazer com este fracasso: a impossibilidade em
questão é ainda mais grave. A falência do homem provém da servidão onde o
acorrenta seu próprio eu. Assim ele fecha para si mesmo o caminho da vida
eterna.
Os
discípulos tão bem compreenderam o final do diálogo entre Jesus e um jovem
rico, que eles estão aterrorizados. E veem a si mesmos nesse impasse.
Descobrindo a universalidade do
julgamento de Jesus, eles percebem a que ponto ainda estão acorrentados às
riquezas desta vida. Subitamente, o acesso ao Reino se revela para todos tão estreito quanto para os ricos
dos quais Jesus nos fala nesta parábola. Então, ergue-se a pergunta inquieta
dos discípulos: quem poderá ainda ser salvo? Pois a lei compreendida como um
meio de salvação ou um potencial humano de graça sempre bate de frente contra
esse ‘impossível’.
Mas resta
ainda uma possibilidade maravilhosa. E Jesus a proclama abertamente. Não o faz
mais sob a forma de uma lei, sempre suscetível de falsas interpretações, mas
sob a forma do Evangelho: isto ‘é possível para Deus’. Tal é a realidade do
Reino de Deus trazida por Jesus. É na sua vinda que o ‘impossível’ dos homens
se torna o ‘possível divino’. O que a Lei não podia fazer, Deus o realizou ao
enviar seu próprio Filho. Tendo o homem fracassado diante do mandamento, Deus
retoma agora em mãos a obra da salvação. O sentido da Graça é agora
esclarecido.”
Aí está: a
salvação não é uma conquista. É puro dom. Pura Graça! Não temos de arrombar as
portas do céu a golpes de aríete. Basta aceitar com simplicidade e gratidão
filial aquilo que o Pai nos oferece em seu Filho.
Ah! Ouço
pregações pelagianas que conclamam ao esforço, à disciplina moralizante, à
superação de más tendências, como se isto dependesse apenas de nosso
voluntarismo! Faz-se silêncio sobre a ação interior do Espírito Santo em nós. E
o espectro do “impossível” ronda nosso coração cada vez mais...
Orai sem cessar: “Quando
eu for erguido, atrairei todos a mim!” (Jo 12,32)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova
Aliança.
Nenhum comentário:
Postar um comentário