Amai os vossos inimigos! (Mt 5,43-48)
Aqui,
estamos diante de um exclusivo cristão. Amar os amigos, todo mundo ama. É bem
fácil: temos a mesma raça, o mesmo sangue, a mesma língua, a mesma religião, o
mesmo Livro sagrado, o mesmo altar... Pode-se até rezar o salmo: “Ó como é bom
e agradável irmãos unidos vierem juntos!” (Sl 133,1) Mas a ordem para o
seguidor de Cristo é exatamente o impensável: amar o inimigo!
Deve
ser por isso que Jesus não mandou amar apenas o próximo, como no Antigo
Testamento: mandou amar o inimigo! Aliás, os rabinos judeus do tempo de Jesus
discutiam interminavelmente sobre a definição de quem seria o tal “próximo” que
a Torá mandava amar (cf. Lv 19,18). Seria apenas outro judeu? Ou também o
prosélito? Deveria ser incluído o estrangeiro com suas diferenças? E não
chegavam a um consenso...
A
questão se torna mais aguda quando contemplamos Jesus e nos certificamos de que
ele vai muito além das palavras. Ele pratica o mesmo mandamento que nos deu: na
cruz, cravado no madeiro, Jesus não morre sem, antes, rezar ao Pai: “Pai,
perdoa-lhes! Eles não sabem o que fazem...” (Lc 22,34) O primeiro mártir da
Igreja, o diácono Estêvão, morreria apedrejado e repetindo quase as mesmas
palavras de Jesus (cf. At 7,60).
Que
motivos têm alimentado o nosso ódio? Quais os seus estopins? Humilhações,
zombarias, desprezo? O sucesso dos outros? A corrupção dos governantes? A
agressão dos bandidos?
Lembro-me
do tempo de serviço na Pastoral Carcerária, na Grande BH, quando uma senhora
visitava um jovem preso, aos domingos, levando um bolo, costurando-lhe a roupa
e, creio, catando-lhe os piolhos. Era a mãe de sua vítima. E ela dizia: “Ele
tem a mesma idade do meu filho morto. Posso fazer por ele o que eu faria por
meu filho, se estivesse preso...”
Claro
que isto não se impõe. O amor é livre. E mais: o amor liberta! É como ensina
Marko Ivan Rupnik: “O amor, na sua essência, é livre adesão. O amor é a
comunhão das pessoas, mas de maneira livre, é a unidade vivenciada como livre
adesão. Quanto mais o amor é maduro, mais ele está próximo do amor de Deus, e é
mais livre de qualquer coerção, de qualquer necessidade. [...] No entanto, o
amor tem apenas uma fonte – Deus Pai -, um único comunicador – o Espírito Santo
-, e um único realizador absoluto – Jesus Cristo.”
Mais
uma vez, estamos perante um “impossível” para os homens. Mais uma vez, não
depende de esforço, de boa vontade e superação. Só temos uma saída: acolher a
Graça! Abrir o coração ao Espírito Santo. Só ele ensina a amar assim...
Orai sem cessar: “Não me
prives do teu Santo Espírito!” (Sl 51,13)
Texto de Antônio Carlos Santini,
da Comunidade Católica Nova Aliança.
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