Escutai-o! (Mt 17,1-9)
Na cena da Transfiguração de
Jesus, no alto da montanha, nossa atenção é atraída para os fenômenos visuais
com seu rico vocabulário: rosto brilhante como o sol, roupas brancas como a
luz, a nuvem luminosa... Os pintores e os iconógrafos se esmeraram em retratar
a luminosidade do cenário.
Contudo, a inesperada voz que sai da nuvem – a voz do Pai –
não vem chamar a nossa atenção para aquilo que se pode ver, mas para o que se
deve ouvir: - “Este é o meu Filho amado, nele está meu pleno agrado:
escutai-o!” Logo, a mensagem principal não se dirige aos olhos, mas aos
ouvidos.
Passaram séculos e continuamos na
direção errada: multidões atentas a milagres visíveis, o sol girando,
paralíticos deixando as muletas, como espetáculo para nossos olhos (e para a
TV). E somos esses mesmos fiéis que ainda não levamos a sério aquilo que Jesus
nos repete ao longo dos quatro evangelhos: perdoar as ofensas, rezar pelo
inimigo, partilhar o pão...
A mensagem da Transfiguração
simplesmente repete – ainda que intensificada pela proximidade da Paixão – a mesma
mensagem do Batismo no Jordão: “Este é meu Filho bem-amado!” O Pai não está absolutamente
interessado em firulas de mágicos, na prestidigitação de curandeiros, em
efeitos especiais, mas quer simplesmente que nós conheçamos seu Filho. Ele é o
Caminho.
Aquele que se aproxima de Jesus,
ouve suas palavras, imita seus gestos, inicia um processo de “metamorfose”
(esta é a palavra grega deste Evangelho, normalmente traduzida como
“transfiguração”) que vai revelando, dia a dia, as altitudes a que é chamada a
pessoa humana.
Os críticos habituais de nossa
religião não encontram grande dificuldade em contestar nossos dogmas, mas ficam
mudos e perplexos diante do testemunho de pessoas que “conheceram” de fato a
Jesus, a ponto de viverem como Jesus viveu: uma vida de desprendimento, de amor
ao próximo, de sacrifício pela humanidade. Dom Bosco, Madre Teresa, Alberto
Schweitzer estão nesta lista. Eles demonstram com a própria vida qual é a
essência do Evangelho.
Assim, não precisamos de novas
transfigurações. Precisamos conhecer Jesus, o Amor que se fez carne para nos
salvar.
Afinal, não é o milagre... é o amor que transfigura...
Orai
sem cessar: “Fala, Senhor, que teu servo escuta!” (1Sm 3,10)
Tradução
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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