Teu pai e eu... (Lc
2,41-51a)
A
expressão é de Maria, Mãe de Deus. José e Maria haviam perdido seu filho adolescente
na multidão. Ao perceberem sua falta, ficaram “comovidos”, diz o evangelista.
Voltam atrás o caminho de uma jornada. Buscam pela cidade grande durante três
dias. Quando, enfim, a Mãe o vê entre os doutores, no Templo, ela desabafa:
“Estávamos angustiados!” Mas ela se põe em segundo plano: “Teu pai e eu...”
Quando
a Igreja escolhe esta passagem do “evangelho da infância” registrado por São
Lucas, qual seria a sua intenção? Há muitos pontos que merecem nossa atenção.
Trata-se uma família que peregrina com os vizinhos e conhecidos. As crianças
participam da vida dos adultos. Os pais se sacrificam pelos filhos. Na pessoa
do filho ocultam-se mistérios que surpreendem os pais. O filho obedece...
Parece
muito para nossos tempos? Talvez... Mas o que me chama a atenção é a esposa que
valoriza o pai diante do filho. Maria sabe muito bem que José, da estirpe de
Davi, fora escolhido por Deus para dar ao filho a honra de um pai. Escolhido
para ser o pai nutrício. Para ser o pai legal. Para dar ao Filho de Deus
encarnado um modelo masculino, um exemplo de trabalho, um referencial para sua
existência humana.
O
segredo de Maria esposa parece um tanto esquecido entre nós. O cônjuge talvez
não veja no outro alguém que deriva de uma escolha de Deus para sua vida,
reduzindo-o a mero parceiro de uma aventura que deve durar enquanto dura a
paixão, a conveniência ou o interesse. Pior ainda: é comum que um dos cônjuges
desvalorize o outro diante dos filhos, sem perceber que cava uma ferida
profunda nos corações desprotegidos...
“Teu
pai e eu...” Não se trata apenas uma frase de polidez: é um verdadeiro ato de
amor. Nós ainda não nos detivemos o suficiente para meditar em toda a ternura e
gratidão que Maria de Nazaré experimentava pelo esposo que Deus lhe deu. Ter a
seu lado o homem que obedece à voz de Deus até nos sonhos... O homem que se
sacrifica pela família... O homem no qual se reflete a justiça de Deus... O
homem no qual o filho pode buscar o rumo de seu itinerário...
Sim,
José de Nazaré foi muito amado por Maria. Duvido que, algum dia, ela se tenha
queixado do “peso” da vida de casada, pois a presença de José era uma
inspiração permanente para o exercício do amor.
E
a gente começa a entender a escolha deste Evangelho para a solenidade de São
José...
Orai sem cessar: “Os
pais são a glória dos filhos...” (Pr
17,6)
Texto de Antônio Carlos Santini,
da Comunidade Católica Nova Aliança.
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