Vai
lavar-te! (Jo 9,1-41)
Ouçamos
o comentário de D. Claude Rault, Bispo do Saara argelino, sobre este Evangelho:
“Nos
Evangelhos, não há mais bela parábola de nossa vida de fé do que esta do cego
de nascença. Não há roteiro mais significativo de nossa existência de crentes.
Tal como o cego, nós fomos ‘batizados’,
tivemos os olhos lavados na piscina do Enviado.
Para
quase todos nós, nosso batismo aconteceu na noite de nossa primeira infância.
Foi preciso que assumíssemos nosso batismo em uma ausência quase total de
evidências, até mesmo em uma solidão que é a de nossa própria liberdade! É
preciso que Jesus se apague de nossa existência, exatamente para que nossa
liberdade seja acionada. Às vezes, precisamos caminhar sozinhos na escuridão da
noite, enfrentar as dúvidas, os questionamentos que abalam, e caminhar em nossa
vida cristã ou nosso engajamento religioso apoiados apenas na única palavra que
nos foi dita: “Vai lavar-te na piscina do Enviado!”
A
fé do discípulo não é um itinerário que se banha na evidência. Precisamos fazer
frente às contradições da vida – as de fora e, mais ainda, aquelas que vêm do
interior. Teríamos, de fato, bons motivos para abandonar nosso compromisso à
beira da estrada: nossos fracassos, insuficiências, nossas mediocridades. A
tentação mais sutil que nos ronda não são as grandes tentações do tipo de Santo
Antão: é o desânimo do “afinal, pra quê”?
É
preciso espantar esse demônio, porque ele nos leva à mediocridade ou à
demissão. E só posso fazê-lo saindo de mim mesmo, assumindo minha própria
fraqueza. Sim, sou pecador... Sou difícil na comunidade, na família, indolente
em meu serviço, lento a caminhar... Eu sinto e conheço minhas feridas...
E
daí? Minha deficiência pode ser o lugar onde vai-se manifestar a obra de Deus.
Jesus acredita no futuro do cego que eu sou: ‘É para que nele se manifestem as
obras de Deus’ (Jo 9,3). Sou uma terra em obras, uma terra de futuro. Eis o que
eu sou. E não tenho o direito de dizer que comigo o Senhor nada mais tem a
fazer. Minha insuficiência, meu pecado, minhas quedas, tudo isso pode ser o
ponto de partida para uma existência incessantemente renovada.” (Jésus, l’Homme de la Rencontre.)
“Ao
passar, Jesus viu um cego de nascença...” Era eu. Nem imaginava o que fosse a
luz. Na verdade, eu estava até bem acostumado às minhas trevas pessoais. Eu nem
pedi que Jesus me desse a visão. Como sempre, a iniciativa foi dele. Hoje – e
todos os dias – ele repete a mesma ordem: “Vai lavar-te!” E é Ele o Enviado.
Ele tem as águas luminosas. Mais ninguém...
Orai sem cessar: “Na
tua luz veremos a Luz!” (Sl 36,10)
Texto de Antônio Carlos Santini,
da Comunidade Católica Nova Aliança.
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