domingo, 26 de março de 2017

PALAVRA DE VIDA

Vai lavar-te! (Jo 9,1-41)
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               Ouçamos o comentário de D. Claude Rault, Bispo do Saara argelino, sobre este Evangelho:

               “Nos Evangelhos, não há mais bela parábola de nossa vida de fé do que esta do cego de nascença. Não há roteiro mais significativo de nossa existência de crentes. Tal como o cego, nós fomos ‘batizados’, tivemos os olhos lavados na piscina do Enviado.
               Para quase todos nós, nosso batismo aconteceu na noite de nossa primeira infância. Foi preciso que assumíssemos nosso batismo em uma ausência quase total de evidências, até mesmo em uma solidão que é a de nossa própria liberdade! É preciso que Jesus se apague de nossa existência, exatamente para que nossa liberdade seja acionada. Às vezes, precisamos caminhar sozinhos na escuridão da noite, enfrentar as dúvidas, os questionamentos que abalam, e caminhar em nossa vida cristã ou nosso engajamento religioso apoiados apenas na única palavra que nos foi dita: “Vai lavar-te na piscina do Enviado!”
               A fé do discípulo não é um itinerário que se banha na evidência. Precisamos fazer frente às contradições da vida – as de fora e, mais ainda, aquelas que vêm do interior. Teríamos, de fato, bons motivos para abandonar nosso compromisso à beira da estrada: nossos fracassos, insuficiências, nossas mediocridades. A tentação mais sutil que nos ronda não são as grandes tentações do tipo de Santo Antão: é o desânimo do “afinal, pra quê”?
               É preciso espantar esse demônio, porque ele nos leva à mediocridade ou à demissão. E só posso fazê-lo saindo de mim mesmo, assumindo minha própria fraqueza. Sim, sou pecador... Sou difícil na comunidade, na família, indolente em meu serviço, lento a caminhar... Eu sinto e conheço minhas feridas...
               E daí? Minha deficiência pode ser o lugar onde vai-se manifestar a obra de Deus. Jesus acredita no futuro do cego que eu sou: ‘É para que nele se manifestem as obras de Deus’ (Jo 9,3). Sou uma terra em obras, uma terra de futuro. Eis o que eu sou. E não tenho o direito de dizer que comigo o Senhor nada mais tem a fazer. Minha insuficiência, meu pecado, minhas quedas, tudo isso pode ser o ponto de partida para uma existência incessantemente renovada.” (Jésus, l’Homme de la Rencontre.)
               “Ao passar, Jesus viu um cego de nascença...” Era eu. Nem imaginava o que fosse a luz. Na verdade, eu estava até bem acostumado às minhas trevas pessoais. Eu nem pedi que Jesus me desse a visão. Como sempre, a iniciativa foi dele. Hoje – e todos os dias – ele repete a mesma ordem: “Vai lavar-te!” E é Ele o Enviado. Ele tem as águas luminosas. Mais ninguém...
Orai sem cessar: “Na tua luz veremos a Luz!” (Sl 36,10)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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