O filho do carpinteiro? (Mt 13,54-58)
Decididamente, nosso Deus não é bom
de marketing! Parece um tanto
indiferente à opinião pública. Decidido a enviar seu Filho à terra dos homens,
o Pai o “encaixa” na família de um simples carpinteiro.
Na verdade, o termo grego utilizado
no Evangelho é a palavra “tékton”,
que pode designar o profissional que trabalha a madeira, mas também poderia
incluir outro tipo de “artesão”, até mesmo um ferreiro. Ainda mais se
consideramos que, em tempos de dominação romana na Palestina, dificilmente um
israelita conseguiria viver apenas de uma especialização, tendo de recorrer a
“bicos” e enfrentar a condição de “boia-fria”...
Se Deus se preocupasse com a
“imagem” de seu Filho, poderia tê-lo feito nascer entre os acadêmicos de
Atenas, onde seria alvo de especiais atenções e merecedor dos louros do saber.
Se contasse com as ferramentas do poder, o Pai enxertaria seu Filho em um dos
suntuosos palácios de Roma, onde herdaria desde a mamadeira as honras do Estado
e os salamaleques dos puxa-sacos que orbitam os tronos.
Nada disso! Deus deposita seu
“Bem-amado” aos cuidados de José de Nazaré. Um homem “justo”, sim (cf. Mt
1,19), mas um homem simples, um homem pobre, um filho de Adão que come o pão
com o suor de rosto (cf. Gn 3,19). Teria o Pai em sua mente alguma lição para
nós?
Creio que sim. Era uma lição
sapiencial acerca do “trabalho”. Um Deus onisciente e onipotente prefere deixar
em segundo plano o saber e o poder – nele, infinitos! - para realçar sua natureza
de Criador. Aliás, é exatamente na Criação que se revelam em seu clímax a
sabedoria e o poder do Deus.
Na Exortação apostólica “Redemptoris Custos” [O Guarda do
Redentor, 1989], o Papa João Paulo II escrevia: “Se a Família de Nazaré, na
ordem da salvação e da santidade, é exemplo e modelo para as famílias humanas,
é-o analogamente também o trabalho de Jesus ao lado de José carpinteiro. Na
nossa época, a Igreja pôs em realce isto mesmo, também com a memória litúrgica
de São José Operário, fixada em 1º de maio. O trabalho humano, em particular o
trabalho manual, tem no Evangelho um acento especial. Juntamente com a
humanidade do Filho de Deus, ele foi acolhido no mistério da Encarnação, como
também foi redimido de maneira particular”. (RC,22)
O trabalho já não é o castigo do
pecado original: é a imitação de Cristo.
Orai sem
cessar: “Viverás do trabalho de tuas mãos...” (Sl 128,2)
Texto de
Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
Nenhum comentário:
Postar um comentário