Guardará minha Palavra... (Jo 14,21-26)
Entre os judeus – e Jesus era um
deles, é bom lembrar... -, o verbo “guardar” tem ressonâncias muito especiais.
No vocabulário técnico da tradição rabínica, “receber”, “guardar” e
“transmitir” eram os verbos reveladores do homem justo e fiel. O grande dom de
Deus ao povo escolhido era a Torah, a Lei intermediada por Moisés no Sinai. O
israelita fiel se orientava por ela, recebendo a Lei, guardando-a e
transmitindo com integridade, sem lhe alterar sequer um iode, a menor de
todas as letras.
Trazendo tudo isto para nosso tempo,
diríamos que a virtude em questão é a obediência. Esta palavra, de
origem latina, significa um ob-audiência, ou seja, a atitude de quem
fica de frente para quem está falando, pronto a lhe obedecer. Assim como o
filho que ouve as ordens e conselhos do pai.
Neste Evangelho, Jesus associa a
obediência ao amor. Começa por dizer que o Pai amará quem acolhe fielmente a
Palavra dele, manifestada por Jesus. Isto é, a obediência suscita o amor. Mas o
Mestre acrescenta: “Quem não me ama não guarda as minhas palavras”, o que deixa
claro que é por amor que alguém se vê motivado a obedecer. O filho obedece ao
Pai porque o ama. O tão esquecido “temor de Deus” – dom do Espírito Santo – não
significa outra coisa, a não ser isto: “A última coisa que desejo neste mundo é
entristecer meu Pai, que tanto me ama. Minha obediência é minha resposta de
amor a quem me ama assim!”
Vivemos um tempo de rebeldia. Poucos
desejam obedecer. Mesmo nos Institutos de vida consagrada, a obediência foi a
tal ponto atenuada e reduzida, em nome da responsabilidade e da liberdade de
consciência, que acontecem arrepios quando falamos do carisma de nossa querida
Comunidade Católica Nova Aliança: “obediência incondicional e amorosa à
Igreja”.
- “À Igreja?!” – estranhou uma
freira, fazendo careta. “Nós devemos obedecer é a Deus!” Como se fosse possível
obedecer a Deus, a quem não vemos, sem obedecer à Igreja, que fala em nome de
Deus...
A marca registrada dos santos não
foi o milagre, os dons excepcionais ou as experiências místicas. Tudo isto, se
aconteceu, veio como consequência de uma vida inteiramente submetida à vontade
de Deus.
Como anda nossa obediência à voz de
Deus que fala pela Igreja?
Orai sem
cessar: “No meu
coração conservo as tuas ordens, Senhor!” (Sl 119,11)
Texto de
Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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