Dou-vos a minha paz... (Jo 14,27-31a)
Nosso mundo sempre foi palco de
violência. Na primeira família, Caim matou Abel. Nossa História é um desfile de
agressões e rapinas, destruição e fome. Sempre foi assim. Mas hoje, com a rede
de comunicações, temos uma compreensão mais clara dessa realidade e, por isso
mesmo, é cada vez mais agudo o nosso anseio pela Paz.
E só Jesus Cristo, “nossa Paz” (Ef
2,14), pode responder ao nosso grito. Por isso mesmo, em cada Eucaristia, nos
dirigimos ao Cordeiro de Deus, a divina Vítima do altar, para clamar: “Dai-nos
a Paz!”
Na Exortação Apostólica “Reconciliação
e Penitência” (1984), o Papa João Paulo II juntava os dados de nosso tempo,
como cacos de cerâmica, para recompor o triste mosaico que estamos vivendo:
divergências tribais, discriminação de todo tipo, tortura e repressão, corrida
armamentista, iníqua distribuição dos bens do planeta, direitos humanos
espezinhados, multiplicação da miséria...
“Por mais impressionantes que se
apresentem tais lacerações à primeira vista – diz o Papa -, só observando-as em
profundidade se consegue individuar a sua raiz: esta se encontra numa ferida
íntima do homem. À luz da fé, nós a chamamos ‘pecado’, começando pelo pecado
original, que cada um traz consigo desde o nascimento, como uma herança
recebida dos primeiros pais, até os pecados que cada um comete, abusando da
própria liberdade.” (RP, 2)
Ora, para que Jesus possa semear em
nós a semente da paz, devemos começar por uma profunda reconciliação.
Reconciliação com Deus, com o próximo, com nós mesmos. Enquanto pecamos - e,
por isso mesmo, agredimos a Deus, ao próximo e a nós mesmos – somos cúmplices
do ódio e da guerra, atamos as mãos do Deus da Paz.
Quanta violência dentro de nosso
coração! Impaciências, asperezas, silêncios e rancores, perdão negado,
vinganças tramadas. Quanto impulso de subir mais alto, superar o irmão, usar o
outro! Nós somos a guerra! E acusamos a sociedade de violenta, acusamos
a Deus de omisso...
Os monges de Tibhirine, na Argélia,
foram decapitados por ativistas muçulmanos. Deram sua vida de graça. Viviam no
silêncio e na oração em sua montanha. Aceitaram ser vítimas pela paz. E nós?
Queremos estar do lado vencedor? Ou aceitamos ser cordeiros com o Cordeiro de
Deus?
Orai sem
cessar: “Reine a
paz dentro de teus muros!” (Sl 122,7)
Texto de
Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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