Permanecei em mim! (Jo 15,1-8)
Jamais esgotaremos a riqueza dos
simbolismos que Jesus nos apresenta nesta expressiva alegoria da Videira.
Músculos e prata, a videira resistente extrai do solo os nutrientes que irá transformar
em energia e doçura, cores e fragrâncias. Sob os raios do sol, produzirá as
tonalidades do Bordeaux e os sabores do Valpolicella. Reunida a família, o
vinho estreitará os corações, regendo os cânticos festivos e difundindo a
alegria renovada. Mas para tudo isso, a uva precisa ser esmagada...
Jesus Cristo crucificado é a uva que
se deixou esmagar. Sim, o vinho não foi escolhido por acaso como sinal
sacramental. Ao lado do trigo generoso, também os cachos de uva devem ser
colhidos, amputados do tronco, levados ao lagar e ali pisados sem piedade.
Contemplar o Cristo Crucificado
significa ter diante dos olhos a imagem daquele que foi calcado pelos homens.
Seu sangue pisado é nossa bebida salutar. Sangue todo derramado, distribuído
até a última gota, quando a lança aguda do centurião romano rasgou o lado de
Jesus, “e imediatamente saiu sangue e água” (Jo 19,34).
Na Eucaristia, uma vez alimentados
pelo Corpo e Sangue de Cristo, passa a correr em nossas veias o Sangue
derramado. Por este sacramento de vida, entramos em íntima comunhão com o
Doador universal. Nas palavras ousadas de São Cirilo de Jerusalém, tornamo-nos
com Jesus Cristo concorpóreos (sýssomos) e consanguíneos (sýnaimos).
De certo modo, nós somos cristificados com ele. Com ele e com sua missão
salvadora...
Daí em diante, como poderíamos
negar-nos a ser pisados em benefício dos outros? Como negaríamos nosso esforço
e trabalho, suor e cansaço, para ajudar a caminhada de nossos irmãos? Como
iríamos, ainda, alimentar projetos de acumulação e glória, comodidade e lazer?
Como nos limitaríamos a viver nossa própria vidinha, quando a própria vida de
Cristo corre em nossas veias? Quando a cruz do Calvário nos é oferecida?
Sim, permanecer em Jesus não sai
barato. O preço desse amor sem medidas é a cruz partilhada. Desde o áspero
Calvário, Simão de Cirene inaugurava tal modo de participação no amor e na
cruz. Por isso mesmo, talvez, tão poucos escutem o seu convite...
Orai sem
cessar: “Quem
poderá nos separar do amor de Cristo?” (Rm 8,35)
Texto de Antônio
Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
Nenhum comentário:
Postar um comentário