E viajou para longe... (Mc 12,1-12)
Esta é a
impressão dominante em muitos setores de nossa sociedade e, - quem sabe? – de
nossas Igrejas cristãs. Deus parece longe, retirado em seu nirvana pessoal,
indiferente à fome e à miséria, ao terrorismo e à corrupção. Deus viajou... Na
parábola deste Evangelho, enquanto o Senhor “viajava”, assassinaram seu próprio
Filho... O Senhor prepara uma vinha excelente e a “aluga” prontinha para que
nós (os agricultores) a façamos dar frutos. É a “nossa” história. O fim é
conhecido: usurpação, ganância, apropriação indébita, violência e assassínio.
Tudo porque o Senhor da vinha estava longe...
Quando Deus
está longe, vale tudo! O homem se torna lobo do homem. A Criação é reduzida a
mera fonte de matérias-primas. A cidade dos homens se muda em mercado. Pessoas
são mercadoria. A lei, apenas estorvo. Deus ausente, eu sou Deus e faço minha
própria lei, doa a quem doer.
Ora, será
verdade que Deus viajou para a face oculta da Lua? Está longe de nós? Quando
Madre Teresa deixou a segurança de seu colégio de ricos para cuidar das
crianças remelentas das favelas de Calcutá, não era Deus que se fazia presente
naquele lixão? Quando o Papa Francisco lembra às religiosas que não devem viver
como solteironas celibatárias, mas como verdadeiras mães espirituais, não é a
voz de Deus que lhes fala?
Parece que
estamos esperando uma nova encarnação divina ou algum arcanjo que venha tocar
trombetas em nossos parlamentos... Que Deus desça em pessoa, com um chicote na
mão direita, para vergastar os governantes iníquos... Pura ilusão! É por mãos
humanas que Deus age em nosso tempo. É por vozes humanas que Ele nos fala. É
por pés humanos que Ele se aproxima de nós.
A areia de
nossa história está toda marcada pelas pegadas de seus mensageiros. As freiras
vicentinas de Rimini, Itália, que cuidaram de meu pai até os 7 anos de idade,
quando sua mãe morreu no parto e o pai vivia 7 anos de guerra, não eram uma
presença de Deus? Os jovens da Comunidade Aliança de Misericórdia, ao
conviverem com mendigos, drogados e prostitutas nas ruas de São Paulo, não
comprovam a evidência de que Deus está no meio de nós?
Hoje, nosso
próximo parece cada vez mais longe. Quando nos aproximaremos dele? Quando
seremos a presença de Deus que andam reclamando? Quando ousaremos ser as
mediações divinas tão reclamadas?
Orai sem cessar: “Ele
está no meio de nós!” (Liturgia Eucarística)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova
Aliança.
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