Por que em parábolas? (Mt 13,1-23)
O capítulo 13 do
Evangelho de São Mateus é conhecido como o “sermão das parábolas”. Nele
encontramos uma série de “histórias” de conteúdo simbólico, com as quais o
Mestre Jesus quis abrir nosso entendimento para os mistérios do Reino de Deus.
É nítida a
dificuldade de os ouvintes captarem o nexo profundo das parábolas, tanto que o
próprio Jesus se viu levado a interpretar algumas delas (cf. Mt 13,18ss;
13,36ss). Bem ao gosto oriental, as parábolas são um recurso pedagógico que
consiste em uma breve narrativa que põe lado a lado duas realidades – uma
imediata, outra “misteriosa” -, exigindo do ouvinte um esforço de penetração
nem sempre fácil, mas que viria como fruto de uma reflexão mais profunda ou
mesmo de uma mudança de vida...
No caso, Jesus fala
do “Reino de Deus” ou “Reino dos céus”. Por sua própria natureza, este Reino
supera de longe todas as realidades terrestres, todos os âmbitos do mundo
material, de tal modo que é impossível “falar abertamente” sobre o Reino com a
utilização de nossas palavras ressecadas, utilizadas para designar objetos
(substantivo), aspectos físicos (adjetivo), quantidades (numerais) e ações
palpáveis (verbo).
Daí, o recurso ao
conhecido (terra, semente, joio e trigo, farinha e fermento, tesouro e pérolas)
para falar do desconhecido – o próprio Reino. Na verdade, ainda hoje os
senhores teólogos se engalfinham e discutem o que seria o Reino: a própria
Igreja? Um mundo perfeito aqui no planeta? O próprio Jesus Cristo?
Entretanto, nós já
sabemos alguma coisa sobre ele. Sua (im)plantação é iniciativa de Deus, o
semeador. Seu crescimento depende em parte de nós (a terra). Ele cresce
subterraneamente (como a semente) e só se percebe por seus efeitos (como o
fermento na massa). Seu valor supera toda expectativa humana (como o tesouro
encontrado). Vale a pena trocar tudo por ele (como a pérola especial). Parece
insignificante, mas promete crescer (como o grão de mostarda).
Sim, o Reino gosta
de se esconder. Não sairá nas manchetes. Não busquem por ele no noticiário da
TV. Mas pode ocultar-se em uma enfermaria de hospital, no silêncio de um asilo,
na agitação de uma creche. Pequeno, discreto, imperceptível ao olhar das
quantidades e das estatísticas, o Reino desafia o nosso olhar.
Mas vale a pena
procurar por ele. Quem sabe, o Reino estará bem dentro de nosso coração?
Orai sem cessar: “E vós sereis para mim um Reino de
sacerdotes...” (Ex 19,6)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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