Não viram e creram... (Jo 20,24-29)
Neste
Evangelho pós-ressurreição, estamos diante de uma bem-aventurança extra, não
incluída nas nove bem-aventuranças do Sermão da Montanha. E não se pode negar
que, com ela, Jesus faz um elogio notável para aqueles discípulos que receberam
(e exercitam!) uma fé que independe de sinais, de provas, de argumentos
racionais. Uma fé quimicamente pura...
Mas
nós estamos celebrando a festa do apóstolo Tomé, exatamente aquele que
reservara seu ato de fé para a ocasião em que pudesse ver. E quando teve diante
dos próprios olhos as chagas rubras de Cristo, já ressuscitado, mas com o corpo
ainda marcado pela Paixão, quando foi convidado a espetar seu indicador na
brecha do peito, Tomé fez a profissão de fé: “Meu Senhor e meu Deus!”
Ora,
pessoalmente, eu jamais me cansarei de agradecer a São Tomé pela sua dúvida
provisória. Quanto aos demais apóstolos, meus sinceros parabéns! Mas foi a fé instável
de Tomé que deu sustentação à minha pobre fé: ele VIU! Foi testemunha ocular! E
isto nos recorda que a fé da próxima geração depende do testemunho da geração
atual. Os filhos são batizados na fé dos pais...
Sim,
na ausência de testemunhas vivas a fé pode tornar-se mera tradição, simpático
folclore ou grosseira superstição. É por isso que Tertuliano, nos albores do
cristianismo, afirmou: o sangue dos mártires é semente de cristãos [sanguis martyrum, semen christianorum].
No Coliseu, cada mártir que morria entoando salmos arrastava à pia batismal uma
legião de novos fiéis.
Por
que será que se nota hoje, em especial nas nações mais ricas e nas classes mais
abastadas, uma contínua hemorragia de cristãos? Por que vão-se esvaziando os
nossos templos? Por que tantos casais preferem “juntar-se” a celebrar o
matrimônio e fundar novas igrejas domésticas? Seria, talvez, por falta de
testemunhas?
Como
discursou o Papa Francisco, em 8 de maio de 2013, “o anúncio e o testemunho do
Evangelho, para cada cristão, nunca são um ato isolado, e nenhum evangelizador
age, como recorda muito bem Paulo VI, ‘sob uma inspiração pessoal, mas em união
com a missão da Igreja e em nome dela’ (cf. Evangelii nuntiandi,80)”.
É
hora de testemunhar nossa fé. Afinal, como advertiu o apóstolo Paulo, temos um
precioso depósito a guardar.
Orai sem cessar: “Eu
creio, Senhor!” (Jo
9,38)
Texto de Antônio Carlos Santini,
da Comunidade Católica Nova Aliança.
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