Subiu a uma barca... (Mt 8,23-27)
Em diferentes ocasiões, os evangelhos
fazem referência à barca de Pedro, que acabaria adotada como uma das principais
imagens da Igreja.
Trata-se de uma palavra rica de
conotações, núcleo de várias palavras-satélites a girar à sua volta. A barca
supõe o mar, contraditoriamente espaço de navegação e obstáculo ameaçador. A
barca é meio de subsistência, pois permite a pesca em águas profundas. É na
barca que os pescadores passam boa parte de sua vida, ali amadurecem, enfrentam
o rigor das tempestades, descobrem seu destino e o sentido de sua existência.
Homens do mar, vários dos discípulos do Nazareno tiveram toda a sua vida
inteiramente ligada a esses frágeis barcos de madeira.
O próprio Jesus – cujo chamado parecia
afastar os discípulos de seus barcos – muitas vezes é fotografado pelos
evangelistas em plena barca. Usa-a para atravessar o Lago de Genesaré (Jo 6,1),
dorme em seu interior (Lc 8,23), domina o mar revolto em pé sobre ela (Mt
8,26), faz da barca um púlpito elevado (Lc 5,3).
Os Padres da Igreja encontraram um gosto
especial em associar a barca e a arca. Se, no dilúvio, em clima de Primeira
Aliança, uma arca tinha sido o instrumento de salvação para a nova humanidade
ameaçada pela inundação do mal, já nos tempos da Nova Aliança a imagem da barca
que reúne os fiéis salvos pela água batismal apontaria para a missão da Igreja
no “mar da vida”.
No dilúvio, uma pomba com o ramo verde
anunciaria o renascimento universal; em Pentecostes, uma pomba de fogo
acenderia no coração dos discípulos o incêndio que deveriam comunicar ao mundo,
pois Jesus veio para trazer o fogo à terra (cf. Lc 12,49), ele-mesmo o que
batiza no fogo do amor (cf. Mt 3,11).
Enfim, Deus nunca despreza nosso passado
quando nos dá uma nova missão. Bem ao contrário, as atividades passadas
costumam ser uma clara preparação para o que virá. Assim, os antigos pescadores
de peixes aprendem nos riscos e na paciência o conjunto de virtudes que lhes
tornará possível a árdua missão de pescar homens para Deus (cf. Mt 4,19.)
Inácio, o antigo capitão, transportará da guerra para os combates do espírito a
estratégia e a disciplina dos militares.
Qual seria a nossa barca? Qual será o
nosso mar? Que missão o Senhor nos reserva nos mares deste mundo?
Orai sem cessar:
“Escutarei o que diz o Senhor...” (Sl 85,9)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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