Vinho novo em odres
novos... (Mt 9,14-17)
O odre (do latim uter) é
uma espécie de cantil para o transporte de líquidos, entre os habitantes do
Oriente. Mata-se um cabrito, retira-se sua pele, que é limpa e virada do
avesso. Um nó em cada pata e uma tampa no lugar do pescoço: está pronto o odre.
Um odre novo ainda mantém a
elasticidade da pele; pode guardar vinho novo que, ao fermentar e produzir
gases, não romperá a pele. Mas se o odre é velho, com a pele ressequida, os
gases da fermentação de um vinho novo romperiam o cantil e tudo se perderia:
vinho e odre.
Trata-se de uma imagem muita rica
sobre a vida humana, social e espiritual. Nossos avós já diziam: “Não se trocam
chinelos velhos por chinelos novos”. Isto é, quem se acostumou a certos
hábitos, tradições e soluções, terá enorme dificuldade em se adaptar a
novidades da geração mais nova.
Do ponto de vista espiritual, a
herança do Velho Testamento pesava sobre Israel como um fardo. Além da Torá, os
613 preceitos acrescentados pelos doutores da lei sufocavam o povo. Valores
como o Templo, o Sábado, o sacerdócio levítico, o rótulo de Povo Escolhido, as
glórias do passado, o orgulho nacionalista – tudo conspirava para dificultar a
acolhida do “vinho novo” do Espírito. É assim que a mensagem de Jesus parece
romper com a Tradição e ameaça estourar o tecido encarquilhado dos velhos
“odres”.
Mesmo entre os discípulos, muitos
se escandalizam com as proposta de Jesus, que chega a perguntar: “Vocês também
querem ir embora?” (Jo 6,67.) Somente após Pentecostes – quando o fogo do céu
mudou odres velhos em odres novos – o vinho capitoso do Espírito pôde ser
derramado naqueles corações renovados. Pescadores tornam-se poliglotas,
covardes são heróis, bairristas acolhem o planeta.
Em tempos de mudança, também nós
corremos o risco de não ter sensibilidade diante dos novos apelos do Espírito
Santo. Um exemplo foi a formação de grupos que rejeitaram em bloco o Concílio
Vaticano II, por se sentirem ameaçados em suas tradições petrificadas. Hoje, o
Espírito de Deus aponta novos caminhos. Madre Teresa de Calcutá no serviço aos
pobres, João Paulo II de mãos estendidas aos irmãos separados, Mahatma Gandhi
recusando toda violência...
Somos odres velhos, mumificados?
Ou permitimos que o Espírito Santo nos venha renovar?
Orai
sem cessar: “Renova-me, Senhor Jesus!”
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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