Tome
a sua cruz... (Mt 16,24-28)
Este
incômodo convite vem produzindo alergias e brotoejas ao longo dos séculos. Deve
ser o motivo do sucesso da Teologia da Prosperidade, que só promete ganhos sem
sacrifícios. Salvação sem cruz...
Santo
Agostinho comentou esta passagem do Evangelho. E não gastou sequer um miligrama
de açúcar cristal:
“Se
alguém quer caminhar em meu seguimento, renuncie a si mesmo, tome sua cruz e me
siga. Isto que o Senhor ordenou parece duro e penoso: se alguém quer vir após
mim, renuncie a si mesmo! Mas, na realidade, não é duro nem penoso, porque aquele
que ordena é o mesmo que ajuda a realizar o que ele ordena.
E
também é verdadeira a palavra do salmo: “Por causa das palavras de teus lábios,
eu segui duros caminhos”. (Sl 17,4) E é verdadeira também a palavra que ele
mesmo pronunciou: ‘Meu jugo é fácil de levar, e leve o meu fardo’. (Mt 11,30)
Tudo aquilo que é penoso no mandamento, o amor o torna fácil.
Que
significa: tome a sua cruz? Que ele assuma tudo o que é penoso; que ele me siga
assim. Aquele que começar a me seguir conformando sua conduta a meus
mandamentos, encontrará muita gente para o contradizer, muitos para se opor,
muitos para o desencorajar. E Esses agirão a título de companheiros de Cristo.
Eles caminhavam com Cristo, aqueles que impediam os cegos de gritar. Quer se
trate de ameaças, de adulações ou proibições, se tu queres seguir a Cristo,
transforma tudo isso em cruz; tem paciência, suporta, não te deixes abater!
Nós
estamos em um mundo que é santo, que é bom, reconciliado, salvo, ou antes, a
ser salvo, mas salvo desde já em esperança – pois nós fomos salvos, mas em
esperança. Neste mundo, isto é na Igreja, que segue inteira a Cristo, foi dito
a todos: ‘Quem quer caminhar em meu seguimento, renuncie a si mesmo’.
E
esta palavra não é destinada às virgens, excluindo as mulheres casadas; às
viúvas, excluindo as que estão casadas; aos monges, excluindo os cônjuges; aos
clérigos, excluindo os leigos. É toda a Igreja, todo o corpo, todos os seus
membros, diferenciados e repartidos segundo suas tarefas próprias, que devem
seguir a Cristo. [...]
Estes
membros, que aqui têm o seu lugar, sigam a Cristo, cada um conforme sua
categoria, cada um segundo seu posto, cada um à sua maneira. Que eles renunciem
a si mesmos, isto é, não se apoiem em si mesmos; que eles levem sua cruz, isto
é, suportem no mundo, por Cristo, tudo o que o mundo irá infligir a eles.”
Depois
deste ensinamento, certamente não vamos procurar por uma igreja que anuncie:
“Pare de sofrer!” Jesus está no polo oposto, bem no alto do Calvário.
Orai sem cessar: “Os que contam com o Senhor renovam suas forças!” (Is 40,31)
Texto de Antônio Carlos Santini, da
Comunidade Católica Nova Aliança.
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