Mãe do
meu Senhor... (Lc 1,39-56)
Nesta
solenidade da Assunção da Bem-aventurada Virgem Maria aos céus, elevada e
assumida por Deus em corpo e alma, a Santa Igreja atualiza antiga tradição que
remonta ao Século VI, quando a liturgia bizantina já celebrava a festa da
“Dormição da Mãe de Deus” [em grego, “koimésis tes Theotókou”].
Diferentemente
da visão artística ocidental, os ícones litúrgicos do Oriente mostram os
apóstolos reunidos em torno do ataúde de Maria, enquanto, em segundo plano,
Jesus Cristo abraça a alma da Virgem Mãe, sob a forma de uma criança de colo.
No alto, em um medalhão, cercada de anjos, Maria, viva, sobe aos céus.
Desde
o Concílio de Éfeso [431 d.C.], ao condenar a heresia de Nestório, a Igreja
reconheceu a Virgem Maria como “Mãe de Deus” – “não porque o Verbo de Deus
tirou dela sua natureza divina, mas porque é dela que ele tem o corpo sagrado
dotado de uma alma racional, unido ao qual, na sua pessoa, se diz que o Verbo
nasceu segundo a carne”. Aliás, a Igreja sempre ensinou que toda a grandeza da
Virgem Maria deriva de sua missão única, ao ser escolhida por Deus para gerar
na carne o Salvador.
Como
Evangelho para a liturgia da solenidade de hoje, a Igreja escolheu o episódio
da Visitação a Isabel. Esta, cheia do Espírito Santo, ao receber a visita de
Maria, pergunta: “De onde me vem esta honra de vir a mim a Mãe do meu Senhor?”
Ora, o Senhor de Isabel, filha do povo de Israel, era Adonai, o único Deus.
Assim, quando a Igreja invoca a Maria com o título de Mãe de Deus, reconhece o
seu papel insuperável na encarnação da Segunda Pessoa da Trindade, por obra do
Espírito Santo.
De
fato, a Bem-aventurada Virgem Maria é a ponte (S. Bernardo de Claraval usava o
termo “aqueduto”) pela qual Deus se uniu à humanidade. Jesus Cristo, ao mesmo
tempo Deus verdadeiro e Homem verdadeiro, unindo duas naturezas – humana e
divina – em sua única Pessoa, realiza em si mesmo a antiga promessa de uma
Aliança definitiva entre Deus e os homens. A partir de sua encarnação, a
família humana entrou em consórcio com a Família divina. Assim, o Pai do Filho
é nosso Pai. O Filho é nosso irmão. O Espírito do Pai e do Filho habita em nós.
E
Maria é a Mulher especial, preparada por Deus para sua insigne missão. Como
espelho e modelo da Igreja, a Mãe de Deus nos ensina e nos anima a ser ponte
entre Deus e a humanidade, gerando Cristo para o mundo de hoje e estendendo
pontes entre o Senhor e todos os povos e nações. Depois de tudo isso, a Virgem
Mãe tem plena razão ao exclamar: “O Senhor fez em mim maravilhas!”
Orai sem cessar: “Bendito
é o fruto do teu ventre, Jesus!” (Lc 1,42)
Texto de Antônio Carlos Santini, da
Comunidade Católica Nova Aliança.
Nenhum comentário:
Postar um comentário