Que devo
fazer? (Mt 19,16-22)
Neste
Evangelho, um jovem rico se aproxima de Jesus com uma pergunta aparentemente
prática, bem na linha dos modernos pragmatismos: “Que devo FAZER para ter a
vida eterna?” A resposta de Jesus dá a entender que um judeu fiel, conhecedor
das Escrituras, já deveria ter encontrado a resposta. Por isso mesmo, o Mestre
o remete às Palavras do Sinai, que conhecemos como os Dez Mandamentos.
A
mesma coisa costuma acontecer conosco: ficamos perguntando a Deus aquilo mesmo
que ele já nos disse muitas vezes, seja pela boca dos profetas, no passado
remoto, seja pela voz de Jesus, no Evangelho de cada domingo. Seríamos
distraídos? Ou nos fazemos de desentendidos?
Hébert
Roux observa que Mateus é o único evangelista a precisar que se tratava de um
“jovem”, o que pode esclarecer a situação. De fato, os mais velhos podem cair
facilmente na rotina e viver uma vida descansada (até das coisas de Deus!),
toda apoiada em seguranças humanas. Os jovens, ao contrário do que se diz por
aí, são sedentos de coerência, vivem na busca de algo “que valha a pena” – o
que pode explicar o crescente desinteresse dos jovens por uma carreira, um
diploma, em empreguinho seguro...
O
mesmo comentarista comenta a atitude do jovem: “De fato, sua pergunta revela a
necessidade do absoluto e a busca pelo sentido da vida, como é característico
da juventude. Mas, enquanto este jovem vem a Jesus impelido pelo que lhe falta
(Que me falta ainda?), com a esperança de descobrir uma regra de perfeição
moral superior ao que ele julgava já conhecer, o Mestre se limita a colocá-lo
diante dos mandamentos bem conhecidos da segunda tábua do Decálogo”.
Com
isso, Jesus inverte a situação. O “algo bom” que o jovem queria conhecer, para
o pôr em prática, não era uma ideia ou um padrão moral. “Bom” é o que Deus é,
quer e faz. Assim, o caminho concreto (e não o segredo abstrato) está em
centrar a própria vida em Deus e fazer dele o seu absoluto.
Claro,
o jovem perguntador diz que sempre cumpriu os tais mandamentos, mas ainda sente
um vazio dentro de si. É que não basta cumprir os mandamentos de modo
legalista, como quem aplica um manual, enquanto o coração permanece preso a
outros bens, que acabam por se tornar ídolos em permanente competição com o
próprio Deus. Jesus lê o coração do jovem, ama-o e quer que ele seja feliz.
Daí, o conselho salvador: “Vai, vende os teus bens, dá o dinheiro os pobres e
terás um tesouro no céu”.
Afinal,
como ensinou o próprio Jesus, “onde está o teu tesouro, aí está o teu coração”.
(Mt 6,21)
Orai sem cessar: “Senhor, faz-me viver segundo o teu amor!” (Sl 119,88)
Texto de Antônio Carlos Santini, da
Comunidade Católica Nova Aliança.
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