O Senhor está contigo! (Lc 1,26-38)
Por quase
doze anos, preguei o Evangelho em uma capelinha dos Vicentinos, no bairro Ipiranga,
em Belo Horizonte. Atrás do altar, na parede, havia dois pequenos nichos com
imagens: de um lado, Santa Helena, a rainha; de outro, Santa Zita, a empregada
doméstica. Na primeira imagem, a coroa na cabeça. Na segunda, o balde na mão.
Bastavam as duas imagens para apontar a missão da Igreja: servir para reinar...
Hoje, a
liturgia da Igreja celebra a memória de Nossa Senhora Rainha. O Evangelho
escolhido registra uma cena capital na história da salvação: o momento da
Encarnação do Verbo em Maria, quando Gabriel, mensageiro de Deus, traz a
proposta que a Virgem acolhe da forma mais completa. Em uma frase densa e sem
floreios, Maria adere ao convite divino: “Eis a escrava do Senhor... Faça-se em
mim...” O “fiat” da versão latina traduz um verbo grego no modo optativo [genoito], para expressar não apenas uma
atitude passiva diante da iniciativa do Espírito Santo, mas o desejo de
colaborar com ele. Assim, Maria compromete toda a sua pessoa com o desígnio de
Deus.
Desde já, o
divino e o humano entram em comunhão. Se, um dia, a mulher cooperara para a
queda do gênero humano (cf. Gn 3), agora a Mulher colabora para sua
regeneração. O Criador permanece o mesmo, mas a criatura, insuflada pelo
Espírito, mostra-se inteiramente outra. O Filho da Mulher é o Filho de Deus e,
com isso, formamos uma só família real.
Como ensina
Santo Tomás de Aquino, “o mistério da Encarnação não se realizou porque Deus,
de alguma maneira, foi tirado do estado em que estivera eternamente, mas porque
se uniu de uma nova maneira à criatura, ou antes, uniu-a si”.
Maurice
Zundel faz uma observação notável: “À grande recusa de amor que cobriu de
trevas o esplendor das origens, a esse desvio capital, a essa conversão do
homem para si mesmo que desloca sua unidade, desagregando todas as potências de
seu ser, a este orgulho que o descentra, o exterioriza e o materializa,
entregando-o a todos os assaltos do mundo exterior e submetendo-o a todas as
fatalidades da matéria, o Amor, cuja amplitude não pode ser restrita por nossas
falhas, vai opor esta nova criação
que ora se realiza no seio da Virgem: a Humanidade, toda desapropriada de si
mesma, que gravita no campo da Divindade, a Humanidade que tem seu Eu em Deus,
em um perfeito teocentrismo, a Humanidade que subsiste no Verbo como o
sacramento vivo da Palavra eterna, a Humanidade sagrada de nosso Senhor, Jesus
Cristo, ‘que está acima de tudo, o Deus bendito para sempre’ (Rm 9,5)”.
Somos
inseparáveis de Deus. A Mãe do Rei é inseparável de seu Filho. É como Rainha
que ela vem servir...
Orai sem cessar: “Entra com todo esplendor a Filha do Rei...” (Sl 45,14)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova
Aliança.
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