Vende
todos os bens... (Mt 13,44-46)
Nós já
meditamos muitas vezes sobre estas miniparábolas de Jesus. A densidade delas,
no entanto, jamais se esgotará diante de nossa humilde reflexão. Ambas falam de
um “achado”, de um “encontro” capaz de virar de cabeça para baixo a existência
de quem tem a graça de experimentá-lo.
É curioso
que as duas parábolas nos mostrem diferentes situação: enquanto o negociante
estava determinado a procurar por pérolas preciosas, ou seja, tinha uma
intenção prévia, já o tesouro do campo foi encontrado por alguém que não o
procurava. Puro acaso, diria alguém; pura graça, digo eu. Total iniciativa de
Deus que – ele sim! – jamais se cansa de procurar por nós.
Especialmente nestes tempos de um
relativismo tão profundo, que chega a se tornar cinismo, este Evangelho nos
coloca implacavelmente diante do “absoluto”. Existe alguma coisa que realmente
valha a pena? Algo que justifique revirar a própria vida, abrir mão de tudo que
nos seduzia até então e, para adquiri-lo, dar em troca todos os tesouros que
passamos a vida a acumular?
Alguém diria
que esta descoberta redunda em “perda” e prejuízo, pois acaba por desvalorizar
a vida pregressa e toma da pessoa as velhas seguranças, os seus referenciais e
os pontos de apoio. Pois é isto mesmo: a tal “conversão” realiza exatamente
isto. Só que não se trata de “prejuízo” quando se ganha a ALEGRIA, esta moeda
rara que não se compra com dinheiro, com sucesso e com poder. A alegria
inefável que enche a alma, ilumina o espírito e chega a acelerar os batimentos
cardíacos. Uma experiência totalizante...
Nas palavras
de Hans Urs von Balthasar, “aquele que compreende o valor do que Jesus lhe
oferece, não hesitará em se despojar de todos os seus bens, em se tornar um
pobre em espírito (isto é, aquele que, em sua disposição de espírito, a tudo
renuncia), pois deles é o Reino dos Céus”.
As duas
parábolas nos ensinam que a prudência calculista do mundo dos negócios e das
finanças é incompatível com a alegria de quem descobre o absoluto de Deus. Basta
ler a vida de Francisco de Assis, de Inácio de Loyola, de Teresa de Calcutá,
para entender o “bom negócio” que eles fizeram ao trocar as suas seguranças –
dinheiro, glória, conforto – pelo arriscado mergulho em Cristo, que a tantos
continua assustando...
Um tesouro
que vale a vida não pode ser algum tipo de acumulação que fique “do lado de cá”
quando nós passarmos para “o lado de lá”. Esta consideração sobre “os fins” (os
teólogos falam de vida escatológica...) e sobre a efemeridade dos tesouros
materiais devem abrir nossos olhos e reorientar nosso itinerário neste mundo.
Orai sem cessar: “Senhor, deste mais alegria ao meu coração...” (Sl 4,7)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova
Aliança.
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