E viram somente a Jesus... (Mt
17,1-9)
Na cena da
Transfiguração de Jesus, tudo acontece muito rápido diante de Pedro, Tiago e
João, os três apóstolos escolhidos para testemunharem a glória do Mestre. A luz
solar, as vestes brancas, a presença de Moisés e Elias, a voz da nuvem – tudo
passa num átimo. Finda a visão, eles só veem a Jesus.
Que
significa “ver somente a Jesus” ? Eis o comentário de Lev Gillet, monge da
Igreja do Oriente:
“Para esta
frase, nós podemos encontrar vários sentidos, igualmente verdadeiros. Por um
lado, a condição normal de um discípulo de Jesus, neste mundo, é a de se apegar
à pessoa de Jesus sem que esta esteja revestida dos atributos exteriores da
glória divina. O discípulo deve ver “só Jesus”, Jesus em sua humildade. Sim, em
raros momentos, a imagem dele nos parece envolvida de luz e, se cremos ouvir a
voz do Pai apontando o Filho para a nossa afeição, esses relâmpagos não duram
muito. E nós devemos encontrar a Jesus onde ele se acha habitualmente, no meio
de nossos humildes e, às vezes, difíceis deveres cotidianos.
Ver “só
Jesus” significa ainda: concentrar sobre Jesus nossa atenção e nosso olhar, não
nos deixarmos distrair pelas coisas do mundo, nem pelos homens e mulheres que
encontramos, em suma, tornar a Jesus como supremo e único em nossa vida.
Quer dizer
que é preciso fechar os olhos para o mundo que nos cerca e muitas vezes precisa
de nós? A maior parte dos discípulos de Jesus, vivendo no meio do mundo, ainda
pode dar outra interpretação às palavras “só Jesus”. Sem renunciar a um contato
agradecido com as coisas criadas, um contato amante e devotado aos homens, eles
podem atingir um degrau de fé e caridade em que Jesus se tornará transparente
através dos homens e das coisas. Toda beleza natural e toda beleza humana se tornarão
a franja da própria beleza de Cristo.
Então, nós
veremos seu reflexo em tudo aquilo que, nos outros, atrai e merece nossa
simpatia, ou seja, nós teremos transfigurado o mundo e, em todos aqueles sobre
os quais iremos abrir nossos olhos, neles encontraremos... só Jesus.”
De fato, de
que vale o Senhor transfigurar-se diante dos olhos de Pedro, Tiago e João, se
eles também não forem transfigurados, e continuarem a ver o mundo e as pessoas
como atrativos que acabam por se tornar competidores de Deus?
Seria inútil
o belo espetáculo da Transfiguração de Jesus nas alturas do Tabor, se nós
continuássemos a rastejar pela planície, atraídos por outros brilhos, seja a
cintilação das moedas de ouro, seja o brilho dos palcos, sejam os relâmpagos do
poder?
Que a lição
da Transfiguração seja para todos nós um convite imperioso a centrar nossa
breve existência naquele que tem promessas de eternidade: “só Jesus”...
Orai sem cessar: “Só em Deus repousa a
minha alma!” (Sl 62,2)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova
Aliança.
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