Não
tenham medo! (Mt 14,22-36)
Desde
as sombras das cavernas, o medo é nosso companheiro. Frágil, limitado, inerme
diante das forças da natureza, o homem teme e treme. Basta um trovão, uma
faísca, uma chuva forte, para o medo entrar em cena, arrepiando cabelos e
provocando tremores.
Uma
consequência do medo é a paralisia. Perde-se a capacidade de agir, de avaliar a
realidade objetivamente. Entra em cena a louca do último andar: a imaginação.
Um leve ruído no quintal, já noite avançada, e o vaso derrubado pelo gato
transforma-se em virtual assaltante. Como neste Evangelho, quando os discípulos
veem Jesus como um fantasma.
O
cristão – se é verdadeira a sua fé – deveria reagir diante das ameaças de modo
diferente do pagão, pois confia na presença e na proteção de seu Salvador. É
disso que nos fala Orígenes [185-253], teólogo e mártir:
“Se,
um dia, somos assaltados por provações inevitáveis, lembremo-nos de que foi
Jesus quem nos ordenou que embarcássemos, e ele quer que o precedamos ‘na outra
margem’. De fato, para quem não suportou a prova das ondas e do vento
contrário, é impossível chegar a essa margem.
Assim,
quando nos virmos cercados por dificuldades múltiplas e penosas, fatigados de
navegar entre elas com a pobreza de nossos meios, imaginemos que nossa barca
está no meio do mar, sacudida pelas vagas que gostariam de nos ver ‘naufragados
na fé’ (cf. 1Tm 1,19) ou em qualquer outra virtude. E se nós vemos o sopro do
maligno se assanhar contra nossas iniciativas, tenhamos presente que nesse
momento o vento nos é contrário.
Quando,
pois, entre esses sofrimentos, tenhamos ficado firmes durante as longas horas
da noite escura que reina nos tempos de provação, quando tivermos lutado ao
máximo, cuidando de evitar o naufrágio, podemos estar seguros de que, lá pelo
fim da noite, ‘quando a noite for avançada e o dia vier chegando’ (cf. Rm
13,12), o Filho de Deus virá junto a nós, caminhando sobre as ondas, para
tornar o mar favorável a nós.”
É
tudo uma questão de fé. Quem se concentra no fragor das ondas e nas ameaças do
abismo acabará indo ao fundo. Quem, ao contrário, focaliza Jesus Cristo, jamais
irá soçobrar nas tempestades.
Dentro
da Igreja, há muita gente paralisada pelo medo. Ministros ordenados e agentes
de pastoral que se sentem sitiados pelas potências de um mundo neopagão e
perderam a confiança no poder transformador da Palavra de Deus. No máximo,
sonham com um estado de coisas em que teriam “recursos” para trabalhar com
êxito: meios de comunicação, apoio das autoridades e – claro! – dinheiro.
É
para eles, de modo especial, que Jesus vem repetir: “Não tenham medo! Sou eu!”
Orai sem cessar: “Senhor, na
hora do medo, em ti me refugio!” (Sl 56,4)
Texto de Antônio Carlos Santini, da
Comunidade Católica Nova Aliança.
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