Junto à cruz... (Jo
19,25-27)
Aparentemente,
apenas uma cláusula locativa. Adverbial de lugar. Só que o mesmo lugar registra
notáveis ausências: ali não se vê Pedro, a “rocha”. Não está presente Simão, o
zelota, isto é, o bravo guerrilheiro. Todos os amigos de Jesus fugiram diante
do anticlímax inesperado: a prisão, condenação e crucifixão de Jesus.
“Junto
à cruz”, apenas quatro mulheres e um jovem discípulo. Pois a presença de
João, que não teme se arriscar nem se permite abandonar o Mestre amante, acaba
recompensada de modo admirável. Vendo que sua vida chegava ao fim, Jesus deixa
seu maior tesouro, Maria, sob os cuidados do discípulo amado. “Eis a tua mãe!”
Os
Padres da Igreja reconheceram na pessoa de João, aos pés da cruz, uma figura da
Igreja que acompanha o Mestre em sua Paixão. Modernamente, São Josemaría
Escrivá comentaria: “Os autores espirituais viram nestas palavras do Santo
Evangelho um convite dirigido a todos os cristãos para que Maria entre também
em suas vidas. Em certo sentido, é quase supérfluo este esclarecimento. Maria
quer certamente que a invoquemos, que nos aproximemos dela com confiança, que
apelemos para a sua maternidade, pedindo-lhe que se manifeste como nossa Mãe”.
Por
outro lado, também Maria, aos pés da cruz, é convidada a experimentar
uma ampliação de sua maternidade. A partir do Calvário, aquela que era Mãe de
Jesus Cristo deve estender seu manto materno sobre todo o “corpo de Cristo”, a
Igreja. Dali em diante, cada fiel, imagem de Jesus, passa a ser incluído como
filho de Maria.
Nestes
últimos tempos, quando o Papa João Paulo II adotou como lema a expressão “totus
tuus” (isto é, “todo teu”, todo de Maria!), também ele se inscrevia entre os
filhos, na esteira de João. Sua extremada devoção Mariana, que o levou a
escrever documentos como a Redemptoris Mater e a Rosarium Virginis
Mariae, animou muitos fiéis a recorrerem à sua materna proteção. Hoje
elevado aos altares, o santo polonês confirma que a maternidade mariana é
caminho de santificação.
Parece
natural que os discípulos de Jesus venham a honrá-lo também com gestos de amor
por Maria. Afinal, quem louva a Mãe, honra o Filho. Estranho é alguém imaginar
que nosso amor pela Mãe pudesse desagradar ao Filho...
No
dia de N. Senhora das Dores, a Virgem fiel e o discípulo amado nos ensinam a
verdadeira prova de amor a Jesus: permanecer junto à cruz...
Orai sem cessar: “Busquei
aquele que meu coração ama.” (Ct 3,1)
Texto de Antônio Carlos Santini,
da Comunidade Católica Nova Aliança.
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