Vosso
acusador será Moisés!
(Jo 5,31-47)
Se nossa relação com Deus não
tivesse sido ferida e degenerada, a sociedade humana não precisaria depender de
códigos e de legisladores. É que a voz de Deus sempre fala ao coração de cada
homem que vem a este mundo. Mesmo os grupos humanos mais primitivos sempre
receberam alguma luz interior que lhes permitisse escolher entre um ato e
outro, mais ou menos humano, mais ou menos moral. Desde o primeiro assassino –
Caim – o tribunal da consciência bastava para a acusação: “Meu crime é pesado
demais para carregar... E todo aquele que me encontrar me matará.” (Gn 4,13-14.)
É claro que a argila humana está
exposta à corrupção. A consciência humana pode degradar-se. Mesmo assim, não
poderemos alegar o desconhecimento do bem. Como escreve São Paulo (Carta aos
Romanos 1, 16ss), os pagãos que viveram antes do Evangelho também foram
visitados por Deus, que lhes falou através das perfeições visíveis da Criação.
Transviados, porém, adoraram a criatura em lugar do Criador. Sua idolatria foi
o prelúdio da degradação moral. “Embora conheçam o veredicto de Deus, que
declara dignos de morte os que cometem tais ações, eles não se limitam a
praticá-las, mas aprovam ainda os que as cometem.” (Rm 1,32.)
Neste Evangelho, Jesus não se dirige
a um auditório de pagãos, mas aos judeus de seu tempo, nada menos que os
depositários privilegiados da revelação de Deus por meio dos profetas e
patriarcas. Alvo das preferências do Senhor, aquele povo recebera na montanha do
Sinai a própria Lei de Deus. Como povo escolhido, sua responsabilidade era
evidentemente acrescida.
Por isso mesmo, sua recusa em
acolher o Messias manifestava ao mesmo tempo a falta de amor, o apego à glória
humana e a deturpação dos textos sagrados, jogando no lixo todos os testemunhos
a eles oferecidos: o testemunho de João, os sinais e milagres de Jesus e, por
consequência, as promessas da Primeira Aliança.
Também nós, herdeiros da Nova e
Eterna Aliança, podemos mergulhar no mesmo abismo, se nos apegamos ao rótulo de
“filhos de Deus”, mas não agimos na obediência própria desta condição. Como os
judeus daquele tempo, também nós corremos o risco de vestir uma capa de
superioridade, apegar-nos a ritos de pureza, à excelência do culto, e esquecer
o essencial em nossa relação com Deus e o próximo: o amor que dá a vida pelo
outro.
Se nós cremos que Jesus Cristo há
de vir para julgar os vivos e os mortos, devemos viver nossa vida em
conformidade com esta fé. Se, porém, alguém o recusa livremente como Juiz e
Senhor, tanto pior: com as tábuas da Lei debaixo do braço, Moisés em pessoa
fará o seu trabalho...
Orai sem cessar: “O Senhor julgará o seu povo!” (Hb 10,30)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
Nenhum comentário:
Postar um comentário