Não tenhais medo! (Mt 10,24-33)
O medo está solto. Foi ele quem
cercou as casas de grades e arame farpado, inventou o porteiro eletrônico e
construiu guaritas na esquina. Ele faz a fortuna das empresas de segurança,
cobrando por um produto que não podem entregar. Como disse o poeta, “o medo é
uma flor de pânico apavorando os floricultores”...
Apesar dessa fobia universal – ou,
talvez, antevendo-a... -, Jesus se dirige a seus missionários: “Não tenhais
medo!” Estamos todos nas mãos do Pai, os pardais e todos nós. Sem esta
convicção, continuaríamos trancados em casa.
H. U. von Balthasar comenta a
advertência de Jesus: “Por três vezes, encontramos nos evangelhos este “não
temais”. Em uma delas, Jesus acrescenta aquilo que se deve temer. Não devemos
temer tudo o que acontece no espírito da missão de Jesus. Primeiro, proclamar
‘sobre os telhados’ aquilo que foi ensinado pelo Senhor ‘no côncavo das
orelhas’, pois está destinado a ser conhecido pelo mundo inteiro, e nada poderá
opor-se a essa transmissão.
Naturalmente, com isso o pregador se
expõe ao perigo; ele é ovelha no meio de lobos e deve esperar pelo martírio
devido à sua pregação. É aí também que ele não deve temer: seus inimigos não
podem atingir sua alma. Haveria um único inimigo a temer: aquele que faz
perecer na Geena tanto a alma quanto o corpo; e isto não acontece se o pregador
permanece fiel a sua missão.
Enfim, o cristão apóstolo não temerá
porque, nas mãos do Pai, está muito mais protegido que ele imagina. Aquele que
cuida dos pequenos animais, do mais insignificante fio de cabelo, quanto mais
ele cuidaria de seus filhos? Aqui, Jesus fala de “vosso Pai”. E o contexto o
explica: o homem está em segurança em duração e amplitude enquanto cumpre sua
missão cristã, ainda que exteriormente ele seja considerado um temerário.”
Agora podemos compreender a ousadia
de um Francisco Xavier, atravessando os oceanos em uma casca de noz apelidada
de navio. A serenidade de Anchieta, oferecendo-se como refém entre tamoios
antropófagos. O arrojo do pastor Luther King na defesa de seus irmãos negros.
Estes – e muitos outros – preferiram
o amor ao temor. Nossa equipe da pastoral carcerária, na Comunidade Católica
Nova Aliança, rapidamente trocou o medo pela alegria, anunciando o Evangelho em
um presídio de segurança máxima. E valeu a pena!
Orai sem cessar: “Na hora do medo, Senhor, em ti me refugio!” (Sl 56,4)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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