Ela muito amou... (Lc
7,36-50
Os honestos certamente não vão
gostar. Paciência... A cena é de um banquete. A mulher da rua entra sem ser
convidada. Aliás, pecadora pública, não caberia em um convívio exclusivamente
masculino, como era o costume. Lava com lágrimas os pés de Jesus. Enxuga-os com
seus cabelos e os beija. Unge a cabeça de Jesus com nardo do Egito (cf. Jo
12,3), uma preciosidade. Tudo para escândalo do dono da casa, que despreza o
convidado por seu contato físico com uma mulher “impura”.
Pobre Simão! Triste fariseu! Tão
honesto, tão ignorante do pensamento de Deus! Quando Jesus chegara, como
convidado, um servo da casa deveria ter lavado seus pés com água. A
hospitalidade oriental saudava o visitante com o ósculo da paz, que Jesus não
recebera. Costumava-se igualmente perfumar a visita com aromas especiais. Nada
disso tinha ocorrido... A recepção dada a Jesus não fora nada calorosa!
Assim, diante da crítica muda de
Simão, o fariseu, Jesus pode responder com o triplo contraste: ali onde faltara
a água, a mulher trazia lágrimas; onde faltara o beijo na face, ela vinha com
os beijos nos pés; onde faltara o aroma comum, ela derramava o precioso nardo.
Tudo demais! Tudo fora da medida! Tudo em excesso, como só faz quem ama...
No clímax da sequência, Jesus
declara alto e bom som que os pecados da mulher estavam perdoados. E nós,
modernos fariseus, julgamos que o perdão foi dado como retribuição por seu
tríplice gesto. Erramos! É o contrário! De algum modo, antes deste encontro
(isto fica bem claro no filme de Franco Zefirelli) ela havia experimentado o
amor de Jesus, manifestado por um olhar na esquina. Agora, sim, sentindo-se
amada e perdoada, ela é capaz dos gestos que fez. O perdão recebido antecede os
gestos de amor...
O fariseu honesto tinha como seu
catecismo a certeza de que só os “puros” merecem a atenção de Deus. Para os
“impuros”, o inferno! É quando Jesus quebra as tábuas da lei farisaica e
demonstra que é o amor que salva, não a honestidade. O mesmo Jesus que tantas
vezes afirmara: “Eu não vim para os justos, mas para os pecadores... São os
doentes que necessitam de médico...” (Mt 9,12-13.)
Deus nos livre do moralismo
afetado. Deus nos permita a experiência de ser perdoado e, livres da culpa, nos
tornemos capazes de muito amar...
Orai sem
cessar: “Eu te amo, Senhor, minha força!” (Sl 18,1)
Texto de
Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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