Em geral, os comentaristas da “parábola do semeador” distinguem em
detalhes a natureza dos “quatro terrenos”, como se o resultado da semeadura
fosse mera reação automática, natural, devida simplesmente às qualidades do
terreno. Boa terra, muitos frutos; terra ruim, esterilidade. Até seria bom, se
assim fosse. Se não déssemos fruto, poderíamos justificar-nos por nossa
“natureza”, nossa “genética”: eu sou assim. Pedregoso. Espinhento. Deserto
sáfaro. Logo, nós não teríamos qualquer culpa nem responsabilidade pelo
fracasso da colheita. “Afinal, eu não pedi para alguém investir em mim!”
E dão fruto com sua perseverança... (Lc
8,4-15)
Mas não foi bem isto que Jesus ensinou. Além do “coração reto e bom”, que
ouve e acolhe a palavra, o Mestre fala da “perseverança”. E isto não é
“natural”. É sobrenatural! Depende de um esforço disciplinado da pessoa que
decide cooperar com a graça de Deus, com sua Palavra, com a “semente”
depositada em nosso coração. Os frutos da graça de Deus em nós exigem tempo,
permanência, continuidade.
A perseverança é uma virtude fundamental. O próprio Senhor já nos havia
alertado: “Sereis odiados de todos por causa de meu nome; mas aquele que
perseverar até o fim, será salvo”. (Mt 10,23.) E ainda: “Diante do progresso
crescente da iniquidade, a caridade de muitos se esfriará. Entretanto, aquele
que perseverar até o fim será salvo”. (Mt 24,12-13.)
Quando o Mestre afirmava que “eram muitos os chamados, mas poucos os
escolhidos”, por certo não pensava em algum tipo de predestinação, com pessoas
previamente selecionadas por Deus para a perdição eterna. Devia, ao contrário,
ter em mente a nossa volubilidade em relação às coisas do Reino, nossa inércia
em dar continuidade à missão iniciada, a prontidão em desanimar diante dos obstáculos
oferecidos pelo Mal.
A perseverança, por incrível que pareça, é inseparável da confiança. Em
outra parábola (cf. Mc 4,26-29), Jesus nos fala do homem que lança a semente à
terra e, em seguida, vai dormir. E enquanto ele dorme, a
semente brota e cresce. Isto é, feita a sua parte, ele confia em Deus e a ele
se abandona, sabendo que o Reino traz em seu interior um dinamismo que garante
seu crescimento. Não precisa, todos os dias, cavar em volta da semente lançada
à terra (como fazem as crianças a quem a professora mandou plantar um feijão no
potinho de iogurte!), para ver se o grão está brotando.
Todo desanimado é um desconfiado. Por isso, não persevera. Não dá
fruto...
Orai sem cessar: “Senhor, onde
passastes, ficou a fartura!” (Sl 65,12)
Texto de Antônio
Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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